30 abril 2010

Do reconhecimento do momento de crise em que vivemos

Ultimamente, nota-se que os responsáveis socialistas, de lá e de cá, ficam muito incomodados quando a oposição fala no momento de crise em que vivemos. Exemplo disso foi Carlos César, em resposta às declarações de Berta Cabral, depois da reunião do Conselho e CPR social-democrata. Segundo o presidente do governo regional, reconhecer o momento de crise em que vivemos é empurrar os Açores para baixo e, pelo contrário, assobiar para o lado, fazer de conta que nada se passa, tapar o sol com a peneira, enfiar a cabeça na areia, é puxar os Açores para cima. Será mesmo?

A minha leitura difere um pouco da de César. Na minha opinião, não vale a pena iludir a população - como o próprio fez, certamente conscientemente, aí há pouco tempo atrás, quando disse que a crise nunca chegaria aos Açores. Seria, portanto, expectável que César tivesse aprendido com o erro. Mas não. Insiste em manter uma postura de ilusões, que funciona como engodo para a população. O resultado é, como se sabe, dramático. Porque, além das consequências óbvias da crise, como o desemprego, a incapacidade de pagar as contas ao fim do mês, etc., abate-se sobre a população um sentimento de legítimo de traição, porque não foi devidamente alertada para o futuro, por quem de direito.

Ocupar lugares de responsabilidade política não é só gastar o dinheiro público, não é só para cortar fitas, não é só aproveitamento eleitoral de catástrofes naturais, não é só aproveitar os benefícios. Ocupar lugares de responsabilidade política acarreta também dizer e reconhecer que a situação é má e, quando é o caso - e este é o caso -, que se teve culpa.

É claro que um dos ingredientes essenciais para a recuperação económica do país e da região será um esforço conjunto de toda a população, que deverá estar unida e motivada para esse fim. Mas, para isso acontecer, os responsáveis políticos devem, em primeiro lugar, abrir o jogo completamente, dizer qual a situação terrível em que nos encontramos de modo a que as pessoas saibam com que podem, ou não, contar e depois cabe à classe política liderar por exemplo. Nenhum destes dois pré-requisitos está (nem vai estar) preenchido. O governo regional e o seu presidente preferem o discurso do “está tudo na boa”, o que, de certa forma, até é verdade, pois para eles está mesmo tudo muito bem, mas para as pessoas não está. Exige-se mudança!

1 comentário:

Carlos Faria disse...

Claro que há incómodo, no momento em que a crise começa a sair das economias saudáveis, eis que ela cai com toda a força dentro de Portugal (até cá chegar) onde existia uma economia baseada na mentira política, que consistia em dizer que tudo ia bem sem ir... agora é a hora da verdade e não há outros culpados para acusar no lugar do PS, nem maioria para fazer uma estratégia eleitoralista quando for conveniente.