14 setembro 2011

César sabia da RTP-Açores e não fez nada

Finalmente está-se a debater o futuro da RTP-Açores. Durante os últimos anos o Centro Regional andou à deriva, sem projecto e sem quaisquer aspirações. A casa mãe da RTP foi, aos poucos, tirando meios à RTP-Açores, talvez com o objectivo oculto de a deixar morrer lentamente. A par disso, a oferta televisiva nos Açores foi aumentando muito em termos tanto de quantidade, como de qualidade. O resultado desses dois factores conjugados foi que, aos poucos, a RTP-Açores foi deixando de ser vista pelos Açorianos. Foi, portanto, um processo de morte lenta do centro regional, com a total conivência dos governos regionais dos Açores e da RTP em Lisboa.

Só podemos especular sobre as razões que uns e outros tiveram: Lisboa numa lógica de contenção de custos. O governo regional dos Açores, talvez para não importunar os seus camaradas do PS de Sócrates. Na verdade, esta explicação encaixa perfeitamente naquilo que se sabe ser a postura do governo do PS nos Açores: por um lado, fazer de conta que está tudo bem, ir aparecendo nas notícias a cortar as fitas das inaugurações, mas por outro lado ir adiando os problemas para outros, no futuro, resolverem.

Em Dezembro de 2009, Guilherme Costa, Presidente do Conselho de Administração da RTP, nomeado pelo governo de Sócrates, visitou os Açores e avisou Carlos César que queria que a RTP-Açores passasse a janela da RTP-N. Ou seja, este projecto de redução de horas de transmissão e de redução de custos na RTP-Açores é conhecido do governo açoriano há muito tempo, que não fez absolutamente nada para o tentar inverter.

Mas o importante, neste momento, é mesmo pensar numa solução para mantermos a nossa televisão, porque, efectivamente, faz falta aos Açores. Assisto com alguma surpresa ao discurso do PS-Açores que se limita a exigir mais. É inacreditável! O PS-Açores não aprende. Ainda não perceberam que não há nenhum saco sem fundo com dinheiro. Todos nós queremos mais. Mais meios, mais e melhores ordenados, etc. A responsabilidade política reside exactamente na capacidade de se conseguir analisar a sociedade e redistribuir a riqueza de acordo com as necessidades de cada área e se atingir um desenvolvimento sustentado. O discurso do PS-Açores sobre esta matéria de exigir mais meios é contraproducente para os interesses da própria RTP-Açores. Porque é uma intransigência descabida, que serve de razão para o centralismo de Lisboa, que é transversal a todos partidos, avançar com as suas soluções unilateralmente. Porque não há meios, exactamente por responsabilidade do PS, portanto não pode o próprio PS continuar a exigir mais meios.

Por outro lado, usa-se o argumento do ataque à Autonomia e de como a RTP-Açores é um símbolo da Autonomia Açoriana. Rejeito esse argumento, porque Autonomia é nós sermos capazes de dar resposta às nossas necessidades. Não é pedir a Lisboa que as pague! De resto, o governo açoriano já salvou várias empresas privadas açorianas, como a Sinaga ou a conserveira Santa Catarina, por isso tem a obrigação de salvar uma empresa pública, como a RTP-Açores e os respectivos trabalhadores.

A televisão hoje é muito diferente do que era há 10, 20 ou 30 anos atrás. Hoje há uma enorme oferta, tanto a nível tradicional, como através das novas tecnologias. Ainda assim, existe espaço para haver um serviço público de tv e rádio açorianos, mas ajustado à realidade actual. Não faz sentido a actual grelha de programas da RTP-Açores, com séries, documentários e novelas repetidos do canal 1 ou da 2. Fazia sentido há uns anos, quando aqueles canais não chegavam aos Açores. Portanto, parece evidente que a RTP-Açores tem que concentrar os seus esforços num serviço público que dê respostas que mais nenhum outro canal consegue dar. E para isso nós, açorianos, temos que chegar a um consenso alargado sobre o que é serviço público, para depois o podermos defender.

Temos que fazer tudo para manter a nossa RTP-Açores. Mas se queremos ser uma região verdadeiramente autónoma, não podemos insistir no discurso de exigir mais a Lisboa. A solução terá de passar por uma responsabilidade partilhada, entre Lisboa e os Açores. Isto sim, é Autonomia!

6 comentários:

Justina da Carreira do Tiro disse...

Aposto que bastava a Pangemédia ou a Morfose (ambas empresas Açorianas), mas bastava apenas uma delas para fazer o dito site.
Isto sim considero despesismo.

Bandeira Açores disse...

Aposto que a RTP Açores e RTP Madeira vão mesmo passar a ser a tal dita janela, no entanto, gostava de saber o que irá acontecer à RTP África.
Regionalizemos todos os serviços dos Açores e aí não ficaremos à mercê da vontade politica centralista.

Passemos a gestão dos aeroportos para um serviço regional,passemos todo o valor das contrapartidas da base das Lajes para os Açorianos, bem como o valor gerado pelo Centro Oceânico de Controlo Aéreo de Santa Maria.
Deixemos as migalhas que nos mandam para nos subjugar quando aquilo nós damos é talvez mais do que aquilo que nos dão. Talvez no tenham criado a ilusão de que precisamos deles para sobreviver e nos governar. Porque razão nunca nos deixaram experimentar uma outra autonomia, possivelmente ganham mais em manter-nos sob a sua bandeira do que nos deixarem agitar a nossa bandeira livremente.

Flic Flac disse...

Caríssimo
Estamos de acordo. A Autonomia faz-se de dentro para fora, cumprindo-se, basicamente, os poderes conferidos à RAA e consagrados no próprio Estatuto. A visão socialista passa pela dependência arcaica que se resume nesta premissa: A República dá o dinheiro, nós executamos (gastamos, será melhor dito). Regressando a 1975, e vendo as posições então assumidas pelo PS quanto à Autonomia dos Açores, não deixa de ser coerente. O PS não percebe que a Autonomia passa pela capacidade de ser a própria Região a criar riqueza, sem qualquer dependência, afinal o desiderato último do centralismo. O PS, querendo não o parecer, é centralista. No que à RTP-A respeita sempre entendi que a posição do PS era a que tem tido: ficar passivo (é uma forma de boicote) pelo incómodo que causam aqueles que não são polticamente dependentes. Rebentada a bomba, escudaram-se numa série de confusões que metem constituição, coesão e obrigações de Lisboa. Por cá, a desresponsabilização.

Bandeira Açores disse...

Quando o Rui diz "Autonomia é nós sermos capazes de dar resposta às nossas necessidades. Não é pedir a Lisboa que as pague!", estou plenamente de acordo, no entanto, como sabemos há dinheiro dos Açores que segue para o Governo Central, logo nós temos direito a reclamar esse dinheiro, seja de que forma for.
Comparativamente à Madeira nós temos certamente duas fontes de riqueza para o Governo Central que a Madeira não tem, logo o nosso poder de reivindicação devia fazer ouvir-se mais alto do que os brados de Alberto João Jardim, um homem cuja única herança de má governação que tem é a sua.
Quanto à RTP Açores é simples, não é um serviço regionalizado logo o governo central faz o quer, para quê regionalizá-lo se logo que o PSD Açores assumisse o governo regional certamente iria privatizar a RTP Açores, seguindo a norma do PSD nacional de forma a reduzir despesa. Temo até que se o PSD Açores chegar a governo também por cá se chegue ao absurdo de querer privatizar as águas, a electricidade e afins, a ver vamos.

Anónimo disse...

Isto só endireita quando pusermos no aeroporto alguns mandatários da governança de Lisboa e já agora, acompanhados com os seus lacaios e as suas lacaias daqui.

Só com bilhete de ida!

Bandeira Açores disse...

Que tal pormos o Representante da República para os Açores a dar milho aos pombos.
Se há figura mais representativa do centralismo é essa. Acho que ainda se conseguem poupar uns milhares de euros por ano e acaba-se com um tachinho.