09 maio 2012

O mix dos Açores de 1996 e do Portugal de 2011


Uma instituição bancária que opera nos Açores, levou a cabo um estudo sobre a actual situação económica da região e o resultado é, simultaneamente, assustador, mas previsível. O estudo revela que, a já de si frágil economia açoriana poderá estar em risco de colapso em 7 das 9 ilhas. Apenas São Miguel e Terceira poderão apresentar condições credíveis para uma recuperação económica, mas desde que se conjuguem dois factores: uma recuperação económica no continente e a entrada de dinheiro da União Europeia na economia regional.

Assustador, de facto, mas previsível, porque há muito que vimos alertando aqui, neste espaço, sobre a forma pouco responsável como o governo regional tem vindo a gerir a coisa pública. Estamos a reviver nos Açores, precisamente o mesmo que se viveu no continente há um ano, quando cada dia a mais que Sócrates ficava no poder, representava um novo corte na riqueza das pessoas e, por outro lado, o que se viveu nos Açores em 1996.

As semelhanças entre aquilo que Sócrates fez no continente e aquilo que a dupla César e Cordeiro estão a fazer nos Açores são por demais evidentes. Senão vejamos; tal como Sócrates no continente, aqui nos Açores César e Vasco não têm uma verdadeira estratégia de desenvolvimento para a região. Têm apenas objectivos eleitoralistas e tentam constantemente passar uma imagem de paraíso, ao mesmo tempo que tentam adiar os problemas.

É impossível não fazer o paralelismo constante entre a desgovernação que Sócrates fez e que trouxe o país a esta situação e a desgovernação de César e Vasco Cordeiro que estão a levar os Açores a uma situação em tudo similar, agravada, como sempre acontece, pelos custos da insularidade.

Mas vamos a factos. Onde estão as falhas, em concreto, da desgovernação socialista de César e de Vasco Cordeiro?

Desde logo, no objectivo principal para o qual governam: em vez de governarem para o bem estar e desenvolvimento sustentado da população açoriana, governaram com o objectivo primeiro de serem reeleitos, de se eternizarem no poder. E esse objectivo reflecte-se na estratégia e nas acções que o governo realiza.

 A construção em série e em massa de equipamentos e infraestruturas à base de cimento e betão, que ultrapassam, em muito as reais necessidades da população, que demonstram laivos de megalomania, mas que são essenciais para o objectivo da reeleição dos socialistas, porque dão espaço na comunicação social para o devido corte da fitinha na inauguração. Aliás, fiquemos atentos às notícias regionais para vermos como até Outubro serão muitas as inaugurações que o governo vai fazer.

Depois há o erro crasso que foi alimentar a cultura do RSI também na lógica eleitoralista. Em vez de se seguir o programa na sua origem, tentando reinserir os indivíduos no mercado de trabalho, o governo decidiu continuar a dar e a dar ordenados a pessoas que não dão nada de volta à sociedade. O governo fez isso com receio que, se obrigasse os beneficiários do RSI a trabalharem, perderia os seus votos e das suas numerosas famílias. O governo preferiu manter e alimentar o mostro que hoje é o RSI.

E finalmente a asfixia do sector privado. O governo preferiu ser, ele próprio, o principal interlocutor da Economia açoriana, garantindo, deste modo, que todo e qualquer grupo empresarial tivesse que depender do próprio governo para se manter operacional no mercado.

Ou seja, o governo socialista de César Vasco Cordeiro conseguiu o que queria, fazer com que praticamente toda a população açoriana dependa directa ou indirectamente da sua continuidade no poder.

Mas, como facilmente se compreende, isto é uma total subversão daquilo que deve ser governação virtuosa a pensar nas pessoas. E o resultado está, pois, à vista, temos uma economia à beira do colapso, com um desemprego galopante, com famílias em incumprimento bancário e a devolverem as casas à banca, com as empresas a fecharem e uma crise sem precedentes na Autonomia Açoriana.

O mal está feito e é o resultado de 16 longos anos de poder.  Mas nem tudo são más notícias. Porque é efectivamente possível alterar o rumo das coisas e implementar um modelo de desenvolvimento nos Açores. Para tal é simplesmente necessário fazer a sempre saudável alternância democrática. É que, tal como aconteceu com César em 1996, os novos actores políticos chegam sempre com uma verdadeira vontade de mudar e trabalham realmente com o objectivo de melhorar a vida das pessoas. Tal como uma mudança política foi necessária em 1996, é necessária também uma mudança política em 2012.

O destino tem destas pequenas ironias. Carlos César tinha razão em 1996 quando dizia que muito tempo no poder é nefasto para os interesses da população. César é o Mota Amaral dos nossos tempos.

4 comentários:

Café Puro disse...

Excelente análise

Anónimo disse...

Caro Rui Rebelo
Subscrevia grande parte do seu comentário, mas reparava no final que nem uma linha tinha sido escrita sobre os desmandos do PSD nos Açores(sem falar do desastre do Governo PSD Nacional).
Não necessitava se quer de escrever outro texto bastava dizer que a mesma opção pelo cimento animava Berta Cabral, que pior do que o governo de César foi o de Mota Amaral no Abandono das outras ilhas e que Berta Cabral e seus amigos não têm nem um programa económico diferente de César, nem o seu programa é compaginavél com o Governo do seu Partido em Portugal.
Esta seria a verdade que não quis dizer e ao contrário se limitou a ajudar a campanha demagógica de Berta Cabral e do seu Governo Nacional, que muito para lá das asneiras do governo de César,tenta ser o coveiro do Povo Açoriano

Militante Vertical disse...

Finalmente alguém do PSD resolve a questão Mota Amaral. Agora, espera-se que os restantes militantes e dirigentes se libertem das grilhetas espirituais que ainda pululam no partido, sempre, claro está, respeitando o muito que Mota Amaral fez pelos Açores.

Anónimo disse...

Ainda sou do tempo em que se faziam estradas e se gastava tinta para de 50 em 50 metros se pintar o logotipo do PSD no asfalto. Ainda hoje ali bem perto da Avenida do clube naval de Ponta Delgada persiste já muito desgastada uma dessas setas do PSD. Era preciso pachorra para estas coisas.