O Primeiro Ministro, sem querer, e numa entrevista onde
demonstrou estar totalmente à deriva, abriu o debate sobre a gratuitidade do
ensino em Portugal. O tema deve ser sim objecto de discussão, mas jamais nas
circunstâncias em que Passos Coelho o colocou, ou seja apenas na óptica de uma
ganância imediata do Estado por dinheiro. Fiquemos, pois, e por agora,
descansados, que o ensino obrigatório não vai passar a ser pago, como nos garantiu,
aliás, o Ministro da Educação.
Mas, e como disse, o tema pode e deve mesmo ser motivo de
debate, porque acredito que o actual modelo de total gratuitidade do ensino
obrigatório, a par de outras gratuitidades para todos, é um dos motivos do
disfuncionamento de Portugal. De facto, parece-me que, ao contrário do que se
diz, não estão a tentar matar o chamado Estado Social. Não. Este monstruoso,
injusto e disfuncional Estado Social que temos é que está a matar o país,
porque trata todos por igual, quando sabemos que há uns que podem muito mais
que outros e que beneficiam na mesma das gratuitidades que o Estado oferece.
Mas vamos por partes. O ensino obrigatório não pode ser pago,
de acordo com a actual Constituição, que diz claramente o Ensino obrigatório é
gratuito. Só que as Constituições mudam-se e adaptam-se aos tempos. Não são
Leis imutáveis e congeladas no tempo.
Os beneficiários do ensino público obrigatório em Portugal
podiam, na medida das suas possibilidades, pagar pelo serviço que estão a usar.
Em primeiro lugar, no entanto, ficando clara e inequivocamente plasmado na Lei
que, aqueles que não têm capacidade para pagarem o ensino obrigatório,
devem ser apoiados pelo Estado, até aos 100%. Mas e aqueles que podem pagar? A
questão deve ser levantada porque o cenário que temos actualmente acaba por ser
altamente injusto exactamente para os que poderiam pagar alguma coisa. Porquê?
Porque temos uma situação no ensino de 8 ou 80. No actual sistema os ricos são
os únicos que têm capacidade para colocarem os seus filhos em colégios privados
durante o ensino secundário. Isto permite lhes terem médias muito mais altas,
do que as do ensino público. Depois, esses filhos de ricos concorrem, com os
filhos das famílias de classe média e inferior, ao acesso ao ensino superior
público, mas em clara e, na maioria das vezes, enganosa situação de
superioridade de média nas notas. É isso que acontece em Portugal desde há
muito tempo e que desvirtua por completo o ensino e o acesso aos cursos
superiores mais apetecidos. Enquanto que um aluno do ensino público tem que
cumprir com tudo e mais alguma coisa para ter uma boa média, um aluno dum
qualquer e caríssimo colégio privado, consegue ter as notas e as médias sem
grande esforço. Não está certo.
O que fazer então? Pode-se pensar em privatizar mais o ensino
obrigatório em Portugal e assim dar mais liberdade de escolha e uma oferta
muito mais diversificada aos utentes, em vez deste actual cenário em que só os
ricos é que podem beneficiar. Um serviço público, como é o ensino, não tem que
ser obrigatoriamente prestado pelo Estado. O que verdadeiramente cabe ao Estado
fazer é assegurar condições de igualdade no acesso ao ensino para todos, coisa
que actualmente não acontece. E, por outro lado, apoiar parcialmente ou na
totalidade aqueles que não têm capacidade para pagar o ensino.
O chamado Estado Social em Portugal está a destruir a nossa
Economia, porque assenta num princípio igualitarista de uma extrema esquerda
que governou Portugal depois do 25 de Abril e que ditou as regras com que
vivemos até hoje. As coisas não têm que ser ou totalmente gratuitas, ou
totalmente pagas. Não pode, nem tem que ser 8 ou 80. Não, deve haver vários
graus, de acordo com as necessidades de cada um. E a verdade é que neste momento
o Estado Português não tem a capacidade económica para dar tudo gratuitamente a
todos. Por isso é que continuamente nos aumentam os impostos. Eu preferia que
não me tirassem dinheiro em impostos e que fosse eu a decidir onde colocar os
meus filhos a estudar, onde ter os meus serviços de saúde e até tratar da minha
própria reforma.
Numa coisa o Primeiro Ministro tem razão, o Estado português
precisa ser repensado e refundado de novo, porque assim, está visto, a situação
deficitária vai sempre continuar. Um país é como uma família ou empresa, se tem
receita de 100, não pode andar anos a gastar 150. Senão mais cedo ou mais
tarde, vai eclodir.
1 comentário:
Caro Rui Rebelo
Defendo que a liberdade das ideias e da sua defesa publica deve ser total, mas reconheço na apresentação das suas, com a devida vénia,uma boa intenção completamente contraditória entre os seus termos.
Assim começa por exagerar na gratuitidade do ensino...
O facto do ensino obrigatório não implicar propinas não o tornam gratuito, pois existem muitos custos aquém e além das propinas.
Mas que ideia é esta do ensino obrigatória ser pago, não será isso(para um defensor da liberdade como é)um atropelo a esta mesma liberdade?
Dizer que o estado fica insolvente com os custos do estado social é no mínimo, esquecer-se que existem muito mais despesas para além do ensino e que este é um custo de investimento, reprodutivo(que deixa de o ser quando Passos convida os quadros a emigrar).
É necessário não esquecer a ainda diferença de escolaridade entre a Europa e Portugal, diferença esta que se veio a diluir precisamente(entre outros) pela escolaridade obrigatória e gratuita.
Não renego a necessidade de escolha criteriosa nos gastos públicos e privados, mas o que se vê é uma necessidade de empobrecer o pais com a venda ao desbarato das suas "joias" e a transformação da mão de obra, de barata em escrava.
Vamos realmente ao considero de contradição no seu discurso.
Desde logo na constituição, sem esta os direitos dos trabalhadores e do povo seriam ainda mais precário
Outra das suas involuntárias contradições é pensar que o ensino privado é melhor do que o publico, pela natureza de ser público ou privado, desde logo, isto não é verdade para o ensino superior, onde ficariam as lusófonas e as modernas etc, face ás Universidades publicas. e depois não existe justificação para isso, a não ser a incompetênciaa, não se trata de mudar as funções mas sim de escolher os gestores competentes como já acontece em muitos estabelecimentos escolares públicos.
Outra incongruência é pensar que o chegue ensino, não só é suportado como é uma escolha acertada, sobre isso se calhar era útil debruçar-se sobre as escolas privadas ao serviço da escola pública que são alvo de processos crimes em andamento.
Se não há dinheiro para a escola pública haveria para a escola privada ao serviço da pública?
Mas porque não aplicar a mesma lógica de não pagar impostos referentes à justiça, administração interna, exercito etc
É que se observar as classes mais desfavorecidas, não são servidas(em termos iguais )pela policia, alguém já viu um policia a guardar a casa dum pobre?
Enfim os impostos são solidários e visam(se bem orientados) cobrir as necessidades do País.
Os ricos não querem pagar os impostos não é por serem beneficiados pelos ditos(não deixando de o ser em isenções fiscais e subsídios)é para terem ainda mais riqueza, numa perfeita contradição com a realidade dos ganhos dos trabalhadores no fundo reverterem no final para os ricos que podem vender as suas produções áqueles.
Ter um País culto é um bem reprodutivo, com a excepção do caso do Passos enviar para o estrangeiro os ditos estudantes.
O problema não é de gastos ou de estado social, é de politicas ajustadas.
É uma inverdade dizer que foi a extrema esquerda que fez o estado social, mas como é isto possível, se foi o PS/PSD/CDS, que esteve invariavelmente no governo nesta democracia pós Abril?
exageros em despesas houve, é ver(entre outros) o programa da auto construção de Mota Amaral, é ver as "obras faraónicas" de César, não só para agradar aos eleitores mas como nas autarquias PSD/PS, para conseguirem apoios para as campanhas eleitorais da parte dos construtores civis.
Muito havia a dizer, mas repense esta sua ideia pois estou certo que ela não passa dum fervor de novidade cheia de boas intenções, mas que já provou, que não só não diminui os impostos, como é o caso do Governo de Passos, que ao mesmo tempo, que acaba com o estado social, aumenta os impostos, como é um pouco como a panaceia da concorrência, não passa duma miragem.
Saudações
Açor
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