21 março 2013

O Mau Tempo, as Desgraças e o Serviço Público


Os Açores foram novamente fustigados pelo mau tempo e as desgraças voltaram a bater-nos à porta. A chuva, a muita chuva que tem vindo a cair em todas as ilhas nos últimos dias, tiveram como resultado a perda de vidas na pacata freguesia do Faial da Terra, em São Miguel, e enormes prejuízos materiais um pouco por todo o arquipélago, mas em particular na ilha Terceira, na freguesia do Porto Judeu, onde famílias inteiras perderam tudo.

Infelizmente, este é um problema recorrente nas nossas ilhas. Sempre que chove mais do que é normal, dão-se derrocadas e deslizamentos de terra que, invariavelmente, acabam por ter consequências fatais nas vidas dos açorianos.

Ao fim de tantos anos, de tantas desgraças e de conhecermos tão bem a nossa realidade geográfica, estas situações já não deviam acontecer. Nós somos ilhas sulcadas com ribeiras, ou seja sempre que chove essas ribeiras vão subir o seu leito, pelo que as bermas das ribeiras e as próprias ribeiras em si, deveriam estar constantemente desimpedidas, de modo a que a água possa seguir o seu caminho em direcção ao mar, sem interrupções. É impossível responsabilizar quem quer que seja por estas situações acontecerem, uma vez que são o resultado da conjunção de diversas variáveis, algumas delas de cariz endémico da própria natureza dos açorianos. A solução passa por um trabalho, que tem vindo a ser feito, aliás, ao longo do tempo de rectificação na localização de certas construções e, inclusivamente, pela instrução dos habitantes e trabalhadores dessas zonas, de modo a que não se impeçam as ribeiras.

Mas, esta questão das desgraças que, frequentemente, se abatem sobre os Açores tem outra vertente que deve ser analisada. Ora, como sabemos, o futuro da RTP esteve também em discussão no continente na semana que passou. Miguel Relvas foi ao Parlamento anunciar um corte nas despesas com pessoal na ordem dos 28%. No plano de reestruturação apresentado para a RTP, diz-se que os centros regionais apresentam verdadeiro serviço público, afirmação com a qual concordo em absoluto. No dia seguinte, foi a vez do Presidente do Conselho de Administração ir ao Parlamento dar mais informações sobre o plano de Reestruturação da RTP. Por coincidência, Alberto da Ponte foi ao Parlamento no dia a seguir à tragédia ocorrida no Faial da Terra e para defender o serviço público que a RTP-Açores faz, deu como exemplo a cobertura da tragédia. E aqui é que isto parece uma desconsideração para os Açores e para a RTP-Açores.

Parece que os Açores apenas são notícia no continente quando acontece uma desgraça e que o trabalho da RTP-Açores, enquanto serviço público, resume-se à cobertura do mau tempo. Não, a RTP-Açores vale muito mais que isso. Temos uma diáspora de mais de um milhão de açorianos espalhados pelo mundo, que desesperam por notícias e imagens da sua terra natal. Mais, somos notícia também por muitas razões boas e não apenas por desgraças. 

Portanto, incomoda-me profundamente que os continentais vejam os Açores e a RTP-Açores apenas nas alturas das desgraças. Nós somos muito mais que isso. E, se Miguel Relvas disse que é preciso novas soluções políticas para os centros regionais, quer dizer que é tempo do governo regional assegurar o futuro da RTP-Açores. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mudam-se as leis.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Rui Rebelo
É importante toda a chamada de atenção sobre a fragilidade das ilhas com os Invernos rigorosos e em todas as situações em que se projectam as alterações climáticas mundiais neste cosmos.
A influencia do homem sobre o meio Açoriano ao longo dos séculos nem sempre foi o mais adequado, não só por se ter aproveitado dos materiais mais acessíveis, mas nem sempre os mais adequados, o exemplo disso é o facto do basalto pedra pesada, não ser o melhor material para cobrir as paredes em vista dos sismos, por outro lado duma forma isolada(inicialmente) e depois em massa se construíram em locais de passagem de águas, impermeabilizando os cursos de água, por outro lado a escolha da pecuária em detrimento da agricultura e floresta fez com que por um lado se contribuísse para não cuidar da terra e por outro, por não plantar as plantas mais adequadas a reter os solos.
Existe por isso um pedagogia necessária para entender o espaço rural o ocupar de forma racional ao mesmo tempo que se deve converter o mais possível a habitação construída de forma a que ela se possa comportar de forma mais adequada á rigidez do tempo.
Há uma margem de adequação possível entre o homem e a natureza, são a escola o estado e a sociedade civil que têm que ter um papel formador na sociedade, de forma a entender as melhores práticas neste sentido, com estudos e muita consciencialização, não dispensando o papel coercivo quando necessário.
Dito isto, sem dúvida que a televisão tem também o seu papel, não só como um meio de cultura e instrução como um exemplo em que a região tem que saber defender os seus interesses perante o poder central e entronca a questão de saber se poder autonómico é suficientemente autónomo e dinâmico na defesa dos interesses da região?
Penso que o momento histórico que se vive, obriga também o Povo Açoriano a ter outra intervenção social e politica em torno dos seus interesses, deveres e propostas de saída para a crise.
Parabéns pelo sempre oportuno post.
Açor
Sem dúvida que existem muitas teorias sobre as alteração climatérica a nível Mundial,com o aumento da temperatura e as mudanças

Anónimo disse...

Meu caro Gamboa

Sejamos diretos. Os portugueses estao fartos da RTP. A RTP apenas serve para propaganda poltica do partido que estiver no governo. Nao se sabe o que é o serviço publico. Não se veem programas diferentes dos outros canais e por isso basta que na concessão da licenças seja imposto o serviço publico, o qual deverá aepnas confinar-se aos tempos de antena na campanha eleitoral. Por isso, a RTP açores vale o mesmo. Quem quiser que faça um canal regional. Alias o seu partido parece que tem um projeto desse tipo. Os contribuintes nao teem de ser obrigados a pagar Baioes, Catarinas Furtados ou Nunos Santos e uns quantos rtp açorianos de muto taxo e pouco trabalho. Por isso aceito e concordo com o seu ultim paragrafo.

Anónimo disse...

Caro anónimo das 9.10
Não creio que o seu comentário tenha alguma coisa a ver com o propósito do Rui Gamboa, se bem o entendi, o Rui, propõe e bem o desenvolvimento da RTP no sentido de servir melhor os Açorianos e não pura e simplesmente extingui-la, ou entrega-la aos privados.
Todos os reparos que fez à RTP Açores são correctos, mas no sentido de serem corrigidos e de os adequarem ás necessidades dos Açores e dos Açorianos, esta ideia(que é moda)de acabarem todos os serviços públicos, porque os privados fazem melhor, não só é errada, como leva a que se acabem com os serviços que são úteis para os Açores, basta ver a falta que faz um banco Açoriano, na conjuntura actual e ver que o Banif que substituiu o banco dos Açores, por pouco não desapareceu, e deu no que deu, a atitude mais inteligente e necessária não é acabar com o que funciona mal, mas é necessário, é antes corrigir o que está mal e transforma-lo numa realidade melhor e mais necessária ainda.
Pensar que o serviço publico é só transmitir as Campanhas eleitorais, é tão limitado que se calhar está na génese da RTP Açores se ter transformado naquilo que ela está.
Saudações
Açor