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15 junho 2009

A vara de César

Como já tinha escrito aqui, tornar obrigatório o voto não é a melhor forma de incentivar os eleitores a participarem nos actos eleitorais. Não esperava voltar a falar do assunto, pelo menos tão cedo, mas o senhor Carlos César voltou à carga, desta vez indiciando tiques de sobranceria intelectual pouco condizentes com o cargo que exerce.

Com efeito, fazendo fé no AO, o senhor César voltou ao tema da abstenção dizendo e cito: « É estúpido deixar que os outros decidam sobre todas as questões que nos dizem respeito. ». Dando de barato que o senhor César votou e que, votando, escolheu um partido, no respectivo boletim de voto, ao lado de cujo nome apôs a legal cruzinha, resta-nos olhar para as suas palavras como um meio de voltar a falar da tão malfadada abstenção que desta vez não deu jeito nenhum.

Não vou repetir o que já escrevi aqui, mas, partindo da frase proferida, escrever o que na altura não escrevi.

Antes de mais, não esquecendo nunca que as interpretações são subjectivas, o que resulta da frase acima citada, como primeira interpretação, é que quem vota é inteligente e os restantes são outra coisa.

Nas eleições regionais de 2008, o partido liderado pelo senhor César obteve 45.070 (49,96%) votos, num universo de 192.956 inscritos, tendo votado 90.221 (46,76%) eleitores e sido não inteligentes 102.735 (53,24%) inscritos. Nas eleições europeias, o partido de que o senhor César é militante obteve nos Açores 16081 (32,86%) votos, num universo de 225552 inscritos, tendo votado 48941 (21,7%) eleitores e sido não inteligentes um pouco mais de 180.000 açorianos (É só fazer as contas, como diria um antigo Primeiro Ministro).

Olhando para os resultados eleitorais e para o que está subjacente à ideia do voto obrigatório e, à primeira vista, ao conceito de legitimação eleitoral extraido das palavras do senhor Carlos César, sempre se poderia concluir que o mesmo nunca deveria ter aceitado exercer o cargo que ocupa:
em primeiro lugar, por os não inteligentes serem em número superior aos inteligentes; em segundo lugar, porque a rácio entre os não inteligentes e os inteligentes que o elegeram é de uma disparidade tão assustadora que leva à óbvia interpretação de que terá sido eleito por uma ínfima minoria, carecendo, em conformidade, da etérea legitimidade democrática; por último, mas não descurando, uma vez que aceitou exercer o cargo naquelas condições, deveria considerar a respectiva demissão, face aos resultados das eleições europeias, exactamente porque muitos dos inteligentes de Outubro de 2008 deixaram de o ser em Julho de 2009, sendo certo que, muitos deles, terão votado no partido do senhor Carlos César. Se a legitimidade democrática advém da inteligência...

Segundo o AO, o líder socialista regional atribuiu algumas culpas na derrota eleitoral das Europeias, ao discurso de Vital Moreira.“Percebemos ao longo da campanha que as afirmações dele sobre a autonomia não iriam sair incólumes no resultado eleitoral”, terá afirmado. Nesta estrita perspectiva, e sabendo-se o que a autonomia representa para a maioria dos açorianos (digo maioria, por causa dos acontecimentos de 06 e 17 de Junho de 1975 que o Rui lembrou aqui), poderá sempre dizer-se que, provavelmente, houve inteligência... a mais!

No entanto, se a abstenção é, actualmente, o tema mais importante na agenda política regional e nacional, então todos deveremos contribuir com a nossa opinião.

O senhor Carlos César, com a habitual sagacidade e inteligência políticas, já o fez, nos termos conhecidos.

Da minha parte, também já contribuí, opondo-me ao voto obrigatório, afirmando que praticaria desobediência civil, caso o mesmo fosse instituido.

Mas, como me preocupo bastante com o assunto, não poderia deixar de acrescentar as seguintes sugestões:

1 - Alteração do regimento da Assembleia Legislativa Regional da Região Autónoma dos Açores, no sentido de proibir a abstenção dos deputados em qualquer votação. É o mínimo que se lhes pode exigir: pensar, discutir e decidir!

2 - Olhando para a sua própria casa partidária, lembrar ao senhor Carlos César que tem como deputado um senhor, cujo nome desconheço, mas que pura e simplesmente faltou à votação de uma proposta da qual era subscritor, sem que até à data fosse dada qualquer explicação aos inteligentes (já não digo para os outros) que não fosse a circunscrição às "razões familiares", seguida de um arrozoado ininteligível (pelos menos, para os não inteligentes) sobre a alteração ou não do resultado da votação, pelo que, depois disto, no mínimo e por coerência, deveria exigir a sua demissão ou a passagem a independente.

Seria, digamos, inteligente e talvez os não inteligentes se tornassem inteligentes, a bem da Região.