Afinal, o concurso “O Grande Dador”, que a empresa Endemol estava a realizar na Holanda era uma farsa. Segundo o Público, o grande objectivo era chamar a atenção para o grave problema de falta de órgãos para transplante, naquele país. A senhora que iria doar o rim era uma actriz, mas os concorrentes são mesmo pessoas que estão na lista de espera para receber um rim.
Apesar dos meios pouco convencionais, a verdade é que funcionou, uma vez que toda a Europa falou sobre o caso. Fica, no entanto, uma questão importante: é que ninguém sabia que se tratava de uma farsa, nem mesmo o governo holandês que fez tudo ao seu alcance para cancelar o programa, mas não o conseguiu, e se fosse de verdade? Portanto as inquietações que aqui manifestamos há poucos dias, continuam válidas, apesar de tudo.
7 comentários:
Já tinha tido oportunidade de repôr a verdade num comnetário ao meu post sobre o programa.
Mas, caro Rui, é sempre bom um destaque de primeira página, pois a reposição da verdade impunha-se. Assim como a explicação dada pela promotora do referido programa.
Cheira-me a recuo, mas afirmam ter sido esta opção - a de não levar por diante o programa -, assumida desde o início.!
Certo é que o debate está relançado, e que este assunto merece toda a nossa atenção, pois a mim parece-me que há dadores em gramde número (relembro que portugal alterou a lei há poucos anos, fazendo com que agora sejam as pessoas que não querem doar os seus órgãos, que tenham de deixar esta vontade por escrito, e não o contrário, como antes), mas não há meios de recolha e conservação desses órgãos.
A UE também tem esses tema na agenda, vamos ver no que dá.
Também é certo, que a publicidade dada ao tema por via desta polémica, veio dar visibilidade e despertar para o drama em que vivem, diáriamente, os receptores que se encontram em lista de espera para receberam o "seu" órgão.......lista de espera que também se estende à morte, acaso não consigam dador compatível.
Um drama
E não te esqueças da outra vertente que este episódio levanta; o problema dos limites para os realuy shows e o que os governos podem ou não fazer. O que achas sobre isso?
Pois, ouvi um holandês referir-se a este assunto, exactamente pegando nessa abordagem, dizia ele: "Tenho muito orgulho em viver num país, onde um programa destes é possível.".
Creio ser esta a ponta do véu que levantas.
Será legítimo, numa sociedade livre e democrática, logo sem censura, que um governo tente exercer o seu poder junto de privados, para que desistam de um qualquer projecto?
Essa questão, embora sobre temas diferentes, foi levantada aquando do cartoon, feito por um cartonista para um jornal, creio que da Finlândia,(?)
Comparo, pois no caso que dou como exmplo, também houve quem pedisse a intervenção Estatal (para pedir desculpa!) para pôr côbro a "manifestações" daquela ordem, sobre temas sensíveis e delicados. Temas, que por si só, podem causar fracturas na sociedade, que podem causar originar grande agitação pública.
já retomo
Refiro-me, para os mais desatentos, ao caso dos cartoons sobre o profeta Maóme, que o retratavam como um potencial bombista e outras coisas, intoleráveis para a fé muçulmana.
Aí, os países nórdicos, em que as liberdades são dados mais do que adquiridos, não se vergam perante pedidos desta natureza.
Claro que o governo holandês, não teve êxito, nas débeis tentativas, de fazer pressão, pois as tradições de liberdade de expressão, também na Holanda têm o seu expoente máximo.
São dissso ewxemplo, as palavras do holandês que transcrevi no primeioro comentário. Eles têm consciência dessa liberdade, e fazem dela ponto de honra.
Esse debate é muito amplo.
Posso aqui englobar, a questão que há dias levantei, relativa aos constantes tábus que vão caindo nas sociedades modernas, e do perigo do aproveitamento, exploração e efeito de choque, que alguns, com menos bom senso (ou o que lhe queirámos chamar, moral, ou escropúlos), possam querer aproveitar para provocar.
A liberdade de um individuo, acaba onde começa a do outro. Cliché? Não, verdade.
A dificuldade está em encontrar esta fronteira, que, alás, está em constante mutação, e não é igual em todas as sociedades, digo, países.
Mais díficil se torna, conhecer as fronteiras, e respeitá-las.
O que achas, meu caro.
E o que acham aqueles que nos visitam?
Pedro Lopes
Os nórdicos são muito diferentes de nós, devido a razões religiosas, talvez. Só a título de exemplo, os turistas que nos visitam vindos da Suécia, andam com uns cinzeirinhos na algibeira, para porem a cinza e apagarem os cigarros. Acho que só isso mostra como lá, não será tão necessário regulamentar tudo, porque as próprias pessoas têm outra mentalidade. Apesar deste exemplo poderá não ser tão bom, porque lá existem multas pesadas para quem poluí. Aliás, vi há pouco tempo noutro blog, que o nível de desenvolvimento de uma sociedade, vê-se na forma como trata o seu ambiente.
Para não fugir à questão que levantas; eu acho que a ética e (alguma) moralidade devem ser preservadas, sob pena de acontecerem casos como o deste concurso (no caso se fosse verdade). Agora a questão é quem os delimita e sob que critérios. E numa sociedade globalizada ainda são mais relevantes, como o caso dos cartoons. Porque se para um povo com uma identidade, de alguma forma comum, será mais fácil os encontrar (os tais critérios), para todo o mundo será mais difícil, entra em campo a tão contestada tese de Samuel Huntigton do Choque de Civilizações, nesse caso a resposta é difícil e entra-se no campo do direito internacional, que está neste momento numa encruzilhada, pois como os EUA o violaram para entrar no Iraque, coloca-se a questão de "se há mesmo direito internacional" porque tem de haver uma entidade que exerça o elemento de coacção e a ONU, não o fez. Será, para o futuro, apenas a força a ditar as regras de conduta no direito internacional? Espero que não, mas neste momento, parece que sim, daí as eleições nos EUA serem tão importantes.
Vamos-nos cingir a questões mais localizadas, que serão de mais fácil solução. No nosso caso, a melhor solução será a criação (como acho que há) de Comissões de Ética, para as diferentes áreas, constituídas por pessoas com créditos firmados na área em questão e que venham de diferentes ideologias. Que depois possam identificar a nossa sociedade, os nossos problemas e que limites precisam de ser impostos. Porque há limites que têm que ser impostos, através do tal elemento de coacção. Vamos a um exemplo concreto: um caso como este do reality show que aconteceria em Portugal. Vamos supor que a nossa lei não prevê um caso destes e as autoridades competentes não podem fazer nada (não sei sequer se há regras para casos destes, haverá com certeza regras para a TV). Nesse caso, a tal comissão deve dar a resposta, que porque essa comissão é composta pelos tais peritos da nossa sociedade, deve ser uma resposta que espelhe os interesses da maioria do país. Seria um caso extremo de remediar, o melhor seria precaver e estar atento às constantes mutações, por muito difícil que isso seja.
O melhor seria vivermos num mundo (país, região) com o menor número de regras e leis possivel, isso quereria dizer que as próprias pessoas agiriam, sem colocar em causa o tal principio, que fazes referência "a liberdade de um individuo, acaba onde começa a do outro", se tal não se verifica, é preciso uma identidade supra (estado?) fazer com que as pessoas (individuais ou colectivas) respeitem as regras, por muito que possa implicar com receitas e ganhos, como o caso de uma tv que ao fazer um programa destes ganha muitas audiências e reverte parte dos lucros para o Estado. A questão será sempre quais os limites dessas regras, quem as pode ditar, e com que critério. Admito que a "solução" que apresento não seja perfeita, mas será aquela que poderá resolver alguns problemas, aliás não é nova, nem tão-pouco, minha, e penso que nalguns casos, é seguida em Portugal. Mas como resolver o caso global, com tão diferentes formas de ver as liberdades?
Essa questão - das liberdades e garantias de cada cidadão -, é delicada, pois paira sempre no ar, o fantasma da censura.
No entanto, é como dizes, eu também penso que devem haver as tais comissões de ética e garantias, que possam balizar e identificar as fronteiras, entre o que é admissível e o que não é, e daquilo que pode ou não chocar a generalidade dos cidadãos e ir contra a moralidade vigente nessa sociedade.
A não ser assim, ficamos á mercê dos interreses individuais ou colectivos, muitas vezes movidos pelo capital(euros), que pouco ligam ás moralidades ou valores, que regem determinada sociedade. esses vão sempre esticar a corda, e quer queiramos quer não, deve caber ao Estado, encontrar uma solução que. sem a sombra da censura, possa ditar regras e fronteiras, para aquilo que consideram ser aceitável ou não.
O ideal de sociedade a que ter referes - uma sociedade que se rege a si própria, basedada em valores e regras não escritas (e com poucas penalizações penais) mas aceites por todos -, é, talvez, o ideal de sociedade.
Mas como esse ideal é, como quase todos, utópico, tem de haver uma entidade supra nacional, que incorpore o maior número possível de países, que faça, a nível global, aquilo que as comissões nacionais de ética, para as diversas áreas, fazem em cada país.
Não encontramos a pólvora, essa entidade já existe, e chama-se ONU, Organização das NBações Unidas.
Mas como também referes, a não aprovação por parte desta (ONU), da invasão do Iraque por parte dos EUA e Grã-bertanha, enfraqueçeram e desligitimaram essa organização, enfraqueçendo futuras possições. Referes que o direito internacional se necontra numa encruzilhada.
Pode ser que estejámos num daqueles momentos de viragem, em que, questionando, se procura uma solução, um caminho, para a (re)legitimação da ONU, e do direito internacional que lhe dá cobertura.
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