16 dezembro 2008

Portas do Mar. Que Turismo para os Açores?

Foto "roubada" ao Fiat Lux.

O prémio que a obra das Portas do Mar recebeu serve de motivo para fazer uma pequena reflexão sobre o estado do turismo em São Miguel e nos Açores.

Como já foi amplamente dito, as Portas do Mar foi uma obra avultada. Decidiu-se investir muitos milhões no turismo de cruzeiros, o que, à primeira vista, é uma boa opção, pois os Açores estão no meio do Atlântico e podem ser facilmente incluídos em várias linhas existentes.

Há alguns pontos porém que queria explorar. É sabido que os pacotes de cruzeiros trazem tudo incluído, sendo por isso compreensível que os turistas de cruzeiros prefiram comer a bordo, saindo apenas para comprar alguma lembrança ou alguma compra de supermercado. Por outro lado, regra geral, o turista de cruzeiro é abastado, sendo também expectável que gaste algum dinheiro quando visita Ponta Delgada. Com isto quero dizer que a aposta no turismo de cruzeiro acarreta algum risco, mas tem condições para gerar alguma riqueza.

Parece-me, no entanto, que não se está a aproveitar os nossos recursos. A pergunta que deve ser colocada é: que temos nós que nos difere dos outros destinos turísticos? Quais são as nossas principais atracções turísticas? A resposta é evidente: a Natureza. Cada uma das nossas ilhas é diferente, cada uma tem pontos de beleza natural únicos no mundo e portanto é aí que se deve investir. Ora, um turista de cruzeiros não tem, de forma alguma, tempo para visitar e apreciar essa beleza natural. Pela simples razão que um cruzeiro fica apenas umas horas em cada destino. E a verdade é que a nossa beleza natural exige tempo, exige calma, exige paz de espírito. E por esse mundo fora são locais como estes que são cada vez mais procurados, por serem cada vez menos, porque se distinguem dos outros, porque são locais onde se pode verdadeiramente retemperar forças.

Desta forma e ressalvando que esta é apenas a opinião de um observador, que não tem qualquer formação na área de turismo, parece-me que o investimento deve ser feito principalmente em três vertentes. Desde logo, preços de passagens aéreas competitivos, que permitam aos Açores colocarem-se definitivamente como uma opção para muitos e preços de passagens inter-ilhas, seja de barco, seja de avião. Muitas vezes ouvi europeus de diversas origens dizerem que sim, que os Açores parecem ser fantásticos, mas por aquele preço visitam três ou quatro países. Neste ponto, que acaba por tocar também directamente aos açorianos, torna-se necessário investir na tal relação com a EU, mas isso é outra conversa. Depois, promoção como sendo esse destino de local de paz, onde há tempo, onde se pode até meditar, fazer passar essa mensagem de forma convidativa é essencial. E finalmente as condições, onde os grandes hotéis não parecem ser a melhor opção, mas sim com locais característicos com contacto humano, conjugado com serviço de excelência e apoiado por várias opções de actividades (trilhos, passeios de barco, etc.)

Dito isto, convém esclarecer que me parece que as Portas do Mar são uma obra bonita que embelezou Ponta Delgada e que o investimento estando feito é essencial agora rentabiliza-lo.

13 comentários:

Anónimo disse...

Caro Rui

o turismo de cruzeiros nunca terá uma grande mais valia pelo dinheiro que os turistas deixam em terra. É pouco. Poucos dos turistas que vinham a bordo do Queen Victoria terão saído de P.Delgada!? Alguns sairam do navio e sentaram-se na primeira esplanada que encontraram.
Por isso achei um pouco ridículo quando vi hoje no "Bom Dia" o homem dos portos mostrar uns folhetos muito bonitos onde até se apelava à observação de golfinhos !?
A maior mais valia será naturalmente os custos com a operação portuária. Não sei quanto é mas não deve ser barato.

P.S. Obrigado pelo "roubo" da foto. É uma honra :-)
Abraço

Jordão disse...

Caro Rui, essa história do prémio está muito mal contada (favor ver o Isso não dá pão). Quanto aos cruzeiros é óbvio que não trarão de imediato os tais dividendos económicos que tanta se fala. Tirando as excursões, que beneficiam essencial o grupo Bensaude, as taxas e afins da utilização do cais, como disse o Fiat, mais uma ou outra compra, umas águas e uns gelados, não arrecadamos mais nada. No entanto há um pormenor que muitos estão se a esquecer, é que esses tais turistas, com algum poder de compra, normalmente voltam, muitos em mais cruzeiros mas a grande maioria regressa por uma ou mais semanas. Portanto não podemos descartar essa oportunidade de promoção, é que de cada vez são milhares de turistas que ficam maravilhados, que mais tarde voltam e que passam a palavra a outros milhares.

Anónimo disse...

Sem segurança não há turismo que resista. Andamos a qualquer hora do dia ou da noite no Funchal e não somos incomodados. Em Ponta Delgada um turista é assediado constantemente pelos raptiados e pelos mendigos. Uma vergonha!

Anónimo disse...

Claro que deve existir investimos em novas estruturas e em promoção externa, agora esquecermo-nos que de resolver problemas tão "básicos" como a segurança e a limpeza dos locais de maior procura é que é grave, estes últimos é que são a essência da nossa oferta turística e a base do tal "turismo de natureza". É pena...

Rui Rebelo Gamboa disse...

Sem dúvida nenhuma que a questão da segurança é vital. Não a abordei neste post, porque parece-me ser algo que merece outra atenção, merece ser discutida por si só e não no contexto do turismo de cruzeiros. Se é verdade que afecta o turismo, também é verdade que afecta todas as outras áreas, por isso acho que precisa de outro tratamento.

Mas, já agora, permitam-me partilhar algumas informações que me chegaram. Ao que parece são muito poucos os criminosos que o colectivo de juízes de Ponta Delgada condena a penas efectivas. Ao que parece, regra geral, são lhes dadas penas suspensas. Mais, parece que nas freguesias mais pequenas, mas com índices de criminalidade já importantes, a PSP à noite acaba por ter receio de encarar as hordas de perturbadores da ordem pública. Segundo sei, em freguesias como Rabo de Peixe (por exemplo) o posto da PSP à noite tem poucos polícias, sendo que podem acontecer até assaltos ou distúrbios dentro da própria esquadra.

Ora, um criminoso que vê que o crime compensa, porque não é castigado pela sociedade que lesou. Mais uma situação onde os criminosos não têm receio das polícias, mas sim o contrário e temos a receita para daqui a alguns anos estarmos a viver num ambiente tipo favela.

Pedro Rocha disse...

Rui, o segundo parágrafo do teu post, acaba com uma grande inverdade, é exactamente por estarmos no meio do atlantico que dificilmente podemos ser inseridos em quaiquer linhas. Apenas podemos almejar os cruzeiros de reposicionamento, e aí temos a feroz concorrência da Madeira e das Canárias.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Pois, acredito que sim e se há coisa que não queremos é ser mais um destino tipo Madeira ou Canárias.

Anónimo disse...

Rui, o Jordão diz uma coisa que me parece importante, que é o facto dos cruzeiros servirem, sobretudo, para nos colocar no mapa, dando ao mesmo tempo possibilidade a muitos milhares de passageiros de terem um primeiro contacto com as nossas ilhas, podendo com isso despertar o interesse r fazer com que regressem por um periodo mais prolongado.


Depois, focas duas questões essênciais, que são; o custo dos transportes e a aposta, a meu ver errada, em hóteis de cidade e com muitas camas. Hóteis destes o turista encontra em qualquer parte do mundo. não têm uma identidade própria.
Outra questão muito importante (que um anónimo já aqui focou) é a questão da (in)segurança. O turismo que temos para vender - de paz e comunhão com a natureza -, não pode sobreviver com problemas de insegurança e mendicidade. Há que olhar com especial atenção para esta vertente, uma vez que a nossa economia está muito estruturada e dependente do sucesso do Turismo.

Anónimo disse...

"Pois, acredito que sim e se há coisa que não queremos é ser mais um destino tipo Madeira ou Canárias."

Confesso que ainda não percebi o porquê da maior parte dos Açorianos se referirem à Madeira e ao seu turismo de uma forma tão pejurativa.

Tiago Reis

Rui Rebelo Gamboa disse...

Caro Tiago Reis,

Pela parte que me toca, o que posso dizer é que nós, açorianos, não queremos um turismo igual ao da Madeira, simplesmente porque o que é feito na Madeira é feito bem e, por isso, nós não teríamos forma de competir, pois estamos muito atrasados. Assim, e porque nos Açores existem paisagens naturais diferentes, o que achamos é que devemos seguir outro caminho, uma alternativa à Madeira.

Ademais, o único sentido negativo que vejo nos comentários sobre o turismo na Madeira advem da massificação. Se é certo que trás benfícios económicos, também é verdade que encerra em si problemas como o uso abusivo das nossas paisagens/recursos. Assim, penso que procuramos um tipo de turismo que traga os tais benfícios económicos, mas sem o impacto negativo da massificação.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Registo a forma cordial e simpática como me respondeu, mas permita-me apenas que deixe breves pontos de reflexão.
A maior parte dos destinos que tradicionalmente catalogamos de "turismo de massas", que não as grandes e centrais cidades turísticas, são destinos cuja principal, ou mesmo única, oferta é a praia. Como sabe a ilha da Madeira não tem praias de areia naturais (salvo uma única e insignificante excepção). Mas como também deverá ter conhecimento, 2/3 da área da ilha da Madeira é área de Reserva Natural, onde a natureza, no seu mais puro estado, impera, é protegida e como tal não pode ser alvo intervenção humana. A maior parte desta área é ocupada pela floresta Laurissílva (a maior área deste tipo de floresta em todo o mundo), que é atravessada por milhares de quilómetros de trilhos pedestres que acompanham os centenários canais de transporte de água (as levadas), que por sua vez serpenteiam montanhas, furam precipícios, “desaguam” em cascatas monumentais, cruzam cenários épicos e propiciam alterações de cenário súbitas e surpreendentes num curto espaço percorrido. Precisamente esta ilha que é ligeiramente inferior em área à ilha de São Miguel, alberga uma população superior ao conjunto das nove ilhas açorianas. Esta população está acomodada no 1/3 de território restante. Talvez daí a ideia de massificação para quem cá vem e não sai dos centros urbanos. Agora, porque continuam a vir anualmente à Madeira 1.200.000 de turistas? Pelo cosmopolitismo da sua capital? Pela concentração urbana de algumas localidades? Pelas suas praias de basalto? Penso que a verdadeira razão é e continuará a ser a sua natureza fascinante (que nunca mas nunca se revela em todo o seu esplendor num simples passeio de carro, mas que exige que se caminhe no seu interior) e pelas suas paisagens monumentais e exuberantes. E por tudo isto, e porque acho que as Canárias não têm natureza para oferecer, acho profundamente injusto que se meta no mesmo saco, ou se preferir cliché, Madeira e Canárias.
Cumprimentos e, já agora, parabéns pelo blog.
Tiago Reis

Rui Rebelo Gamboa disse...

Caro Tiago,

Infelizmente nunca estive na Madeira e estou certo que a minha visão não corresponde à realidade. No entanto, sei que não é por acaso que recebe o título de Pérola do Atlântico, é porque, de facto, tem belezas naturais de alta riqueza.

Agora, note que eu apenas disse que não quremos ser mais um destino como a Madeira e Canárias. E é nesse sentido que coloco as duas no mesmo patamar, no sentido que têm uma industria de turismo implementada de massas. E não por terem as mesmas caracterísitcas geográficas.

Por outro lado, se me perguntar se prefiro um turismo para os Açores igual ao da Madeira, em oposição ao actual estado do turismo açoriano...aí não tenho dúvidas. É que apesar de poder achar que o modelo madeirense não é perfeito, acho também que, pelo menos, a Madeira tem um modelo que lhe trás grandes vantagens de cariz económico, que deságua, necessariamente, em mais e melhor emprego. Assim, a minha resposta seria que prefiro ter um modelo como o madeirense.

Cumprimentos!

Anónimo disse...

Caros, Rui e Tiago, se me permitem, eu acrescento aqui a minha visão enquanto turista na Madeira e enquanto Açoriano.

Em primeiro lugar devo fazer justiça ás palavras do Tiago Reis, confirmando as belezas naturais da Ilha da Madeira e o excelente areal de 14 Km da Ilha do Porto Santo. Também é verdade que o Funchal é uma cidade moderna e interessante, e com muita e boa oferta para o turista. Mas, lá está, a cidade fica, por isso, com um nível de vida mais caro e com menos espaços livres para os locais.
Outra coisa - talvez a que mais me incomoda -, é a falta de espaço e a sensação de que está tudo "atafulhado". Não só no Funchal, mas em todas as cidades da ilha. A orografia do terreno também não favorece as "vistas largas". Talvez por isso, nos surpreendámos de cada vez que ultrapassamos mais uma montanha. Até porque onde há construções, sobra muito pouco espaço para zonas aprazíveios dentro das localidades. Há muito betão.

No que toca á orografia do terreno, o Governo da Madeira resolveu bem o problema, furando tudo o que é montanha e fazendo viadutos de granmde dimensão que as ligam umas às outras.

A falta de praias (na ilha da madeira), acaba por favorecer a economia local, pois o turista não se limita a ficar de papo para o ar a apanhar sol, e, ao visitar a ilha, vai deixando dinheiro por onde passa.

claro que a sensibilidade que os madeirenses tiveram em preservar a sua floresta laurisilva, prende-se com o facto de ter um turismo cimentado pelo menos desde a década de 50 do sec. XX, o que acabou por ajudar a fazer as coisas devagar e bem - pelo menos em algumas áreas. A sensibilidade dos estrangeiros que foram passando e instalando na Ilha tb favoreceram este "fazer bem".

Outra coisa que a madeira soube fazer bem, foi assegurar um turista de alto nível económico, o que lhe possibilitou ter o maior número de Hóteis de 5 estrelas por m2.

Não é raro as unidades hoteleiras na medeira serem distinguidas com prémios internacionais. Isto também ajuda a despertar interesse em novos públicos e a fidelizar os seus clientes de sempre.
(ainda há dias numa reportagem dessas de fim de ano na TV, vi um repsonsável poor um hotel na madeira dizer que recebem um grupoo de duas dezenas de pessoas todos os anos por esta altura, já desde há 20 anos. Se voltam é porque gostaram.)

Mas os Açores não podem almejar a conquistar esse tipo de público, pois a nossa oferta complementar á dormida (excluíndo a natureza) é escassa e não temos gente qualificada para servir bem e fidelizar esse tipo de público, que procura a Madeira não só pelas suas paisagens, mas pelos bons momentos d ediversão e evasão que ai passam. Se fossem á procura de praia, o Porto Santo teria uma procura muito maior. S´agora com a abertura de novas unidades hoteleiras em porto santo, começam a temtar captar esse público de praia.

Mas nós aqui nos Açores nãpo queremos massificação, pois gostariamos - eu pelo menos -, de poder continuar a usufruir de alguns locais mágicos que temos, sem as multidões que esse turismo arrasta e sem as agravantes no custo de vida que isso trás e, mais importante, podendo preservar a natureza, sem acrescentar grandes parques de asfalto, e outras infraestruturas junto ás zonas de interesse. Será utópico? Quererei o melhor de dois Mundos? Talvez, mas se não elevarmos a fasqui, acabamos por atalhar caminho e fazer as coisas pensando no imediato, e não a longo prazo.

Bem, já vai longo....