No passado dia 7 de Fevereiro, fiz aqui, publicamente, algumas considerações sobre uma conferência que teve lugar na Universidade dos Açores. Porque foi um texto curto, passo a transcrever na íntegra:
“Numa conferência pública (mas pouco) sobre terrorismo internacional, organizada pelo MP Paulo Casaca e com a presença de uma representante da Embaixadora da União Indiana em Portugal e do meu estimadíssimo Professor Luís Andrade, discutia-se as origens daquele problema, as suas implicações, formas de combate, etc.Entre traduções próprias da Conferência de Berlim, sai uma questão/afirmação de uma deputada à ALRA que, por estar à minha frente, não pude identificar, uma vez que só lhe via a nuca. Dentro do espírito humanista que certa esquerda gosta tanto de apregoar, a questão/afirmação explicava que as origens do terrorismo no sub-continente indiano poderiam estar directamente ligadas ao modelo ocidental democrático que foi para aquela zona importado. Ora, analisando a questão num âmbito geográfico mais largo do que a União Indiana, poder-se-á discutir se o modelo anterior daria ou não azo a actos terroristas, mas certo é que era um modelo onde, por definição, os cidadãos (se é que se pode chamar isso) não eram todos iguais perante a Lei e onde o conceito de Liberdade era necessariamente diferente do actual.”
No dia seguinte, na caixa de correio deste blogue entrou uma mensagem de Piedade Lalanda, identificando-se como a pessoa que tinha feito a pergunta. Nesta mensagem, a srª. acusa-me de falta de frontalidade, porque não fiz o contraditório “olhos nos olhos” e explica que o terrorismo actual poderá ser o resultado das intervenções dos povos ocidentais na era dos descobrimentos.
Ora, porque raramente consultamos aquela caixa de correio e porque a minha frontalidade não se fica por emails privados, passo a explicar agora e publicamente, como sempre faço, as minhas posições:
“Numa conferência pública (mas pouco) sobre terrorismo internacional, organizada pelo MP Paulo Casaca e com a presença de uma representante da Embaixadora da União Indiana em Portugal e do meu estimadíssimo Professor Luís Andrade, discutia-se as origens daquele problema, as suas implicações, formas de combate, etc.Entre traduções próprias da Conferência de Berlim, sai uma questão/afirmação de uma deputada à ALRA que, por estar à minha frente, não pude identificar, uma vez que só lhe via a nuca. Dentro do espírito humanista que certa esquerda gosta tanto de apregoar, a questão/afirmação explicava que as origens do terrorismo no sub-continente indiano poderiam estar directamente ligadas ao modelo ocidental democrático que foi para aquela zona importado. Ora, analisando a questão num âmbito geográfico mais largo do que a União Indiana, poder-se-á discutir se o modelo anterior daria ou não azo a actos terroristas, mas certo é que era um modelo onde, por definição, os cidadãos (se é que se pode chamar isso) não eram todos iguais perante a Lei e onde o conceito de Liberdade era necessariamente diferente do actual.”
No dia seguinte, na caixa de correio deste blogue entrou uma mensagem de Piedade Lalanda, identificando-se como a pessoa que tinha feito a pergunta. Nesta mensagem, a srª. acusa-me de falta de frontalidade, porque não fiz o contraditório “olhos nos olhos” e explica que o terrorismo actual poderá ser o resultado das intervenções dos povos ocidentais na era dos descobrimentos.
Ora, porque raramente consultamos aquela caixa de correio e porque a minha frontalidade não se fica por emails privados, passo a explicar agora e publicamente, como sempre faço, as minhas posições:
1) Não faria qualquer sentido nem intervir na dita conferência sobre este assunto, nem interpelar a srª depois, como é sugerido no mail privado. Por um lado, porque as traduções estavam a ser ridiculamente lentas, uma intervenção da minha parte para contrapor o argumento da srª., iria demorar uma eternidade. Depois, o centro das atenções era a representante da Embaixada da União Indiana, não me parece correcto que dois membros do público entrassem num diálogo. Finalmente, como disse no post público original, não conheço a srª., nem, muito menos, a identifiquei na altura, apenas soube que era membro da ALRA porque Paulo Casaca assim o disse quando deu a palavra.
2) Em relação ao conteúdo da questão, que como se vê, foi o que abordei, exclusivamente, no post público original, aceitar aquele argumento é desculpabilizar o terrorismo e colocar a culpa apenas no Ocidente. Não posso aceitar isso. Todas as sociedades, em todos os tempos, cometeram atrocidades, a diferença é que os povos ditos colonizadores exportaram os valores por que hoje nos regemos, de liberdade, de democracia, de igualdade. E desta parte do nosso passado devemo-nos orgulhar. Erros e crimes foram cometidos, certamente que sim, mas imaginemos que todos os povos do mundo lembram-se cobrar, através de actos cobardes terroristas, o que, em dada altura da História, outro povo lhes fez? Tantas razões existem para explicar o terrorismo actual, umas mais simplistas, outras mais elaboradas, porquê colocar o acento tónico sempre nesta?
3) A minha frontalidade está aqui, neste espaço público, aberto a quem o quiser ler. Não envio mails privados, quando há caixas de comentários para esse fim. Como diz a srª. na sua mensagem, “há muito contraditório na blogosfera” e que “são os efeitos da modernidade”. Utilize-se, então, esta nova ferramenta de discussão e troca de argumentos, mas que seja de forma aberta e frontal.
11 comentários:
Caro Rui,
Desculpe, a pergunta / afirmação foi feita dentro de outro contexto, ou foi mesmo assim tão superficial e simplista?
Desculpe-me fazer esta pergunta mas custa-me a crer que tenha sido feita tal pergunta / afirmação, pois é tão "básica" para uma deputada à ALRA.
É como diz, parece que se está a desculpabilizar o inqualificável, uma vez que na maioria das vezes, os alvos são inocentes e muitos deles da sua própria "raça". Se aceitarmos tal justificação, quer dizer que mais vale baixarmos os braços na luta pelo terrorismo, uma vez que as atrocidades agora cometidas por determinados cobardes, serão daqui a alguns anos justificação para outros actos terroristas.
Saudações.
P.S.: É preciso saber estar em democracia!
A questão do terrorismo, mais concretamente no Médio Oriente, é na minha humilde opinião, reflexo ainda da Guerra Fria. Ora, compensava estar do lado dos americanos (veja-se o caso do Afeganistão e da Tchetchénia), ora do lado dos russos (no caso do Kuweit).
Assim, se "alimentaram" de armamento bélico pesado os grupos terroristas, ora de origem america ora de origem russa!
Depois a eterna dependência energénica do ocidente, fazendo-nos "prisioneiros" de sheiks, ayatollah e outros fanáticos.
Saudações
Caros amigos,
Peço desculpa por mais este comentário, mas julgo ser pertinente dizer que a actual crise financeira mundial ajudará a resfrear os grupos terroristas. Pois de onde acham que vinha o financiamento desses grupos? Da especulação nos mercados financeiros (petróleo, dólar, fundos de acções, etc)!
Como são insondáveis os critérios de escolha democrática das listas de deputados para a ALRA.
Senhor Rui
Uma vez que respondeu publicamente à senhora deputada, seria curial que nós, simples blogadores amigos duma boa discussão e do contraditório, tivessemos conhecimento do texto integral do e-mail da senhora deputada. Obviamente, por uma questão de privacidade e de cortesia, sugiro-lhe que solicite à mesma a respectiva publicitação, pois, certamente, a senhora autorizará, como representante eleita democraticamente pelos açorianos. Ficamos à espera!
Boa ideia Toupeira, nisto estou absolutamente de acordo consigo!
Esta Toupeira é tudo menos "ceguinha", mas será que a deputada será "surda-muda"?
Caro Voto Branco,
Como compreenderá, o evento teve lugar há quase dois meses, por isso não lhe posso dar mais detalhes. Aquilo que escrevi na altura [o post que está transcrito] foi aquilo que eu tirei da pergunta/afirmação. Não tenho por hábito utilizar manobras ardilosas, como descontextualização, ou deturpação das palavras. Naquele texto está a minha impressão do que foi dito pela srª. na ocasião. Não fui o único a lá estar, portanto, estou aberto a ouvir outras opiniões.
E, meus caros, não vou solicitar à srª autorização para colocar aqui o email. A srª já aqui veio uma vez, pelo menos, por isso se quiser, pode dar aqui, publicamente, tal autorização que eu, de bom grado, publicarei. No entanto, posso adiantar que depois da questão da minha falta de frontalidade, a srª passa à explicação da sua tese, que, em poucas palavras, pode ser posta assim: não coloca em causa as vantagens da democracia [penso que nenhum de nós o faz], diz que a sua questão prendia-se com o facto histórico que foram os excessos dos colonizadores [massarcre de culturas, cultos, religiões], seguindo depois para a ligação ao terrorismo, que nascendo em movimentos religiosos, poderá ser uma reacção à falta de espaço que essas culturas sofreram. Caro Toupeira, penso que o contraditório aqui é terrivelmente simples.
Por mim, evidentemente que admito a culpa dos excessos que foram cometidos. Temos é que os analisar com a devida contextualização histórica, sem os querer desculpar. No entanto, acho que, depois de pesados os prós e contras, a herança que o "Ocidente" deixa é claramente positiva, ou, pelo menos, devemos é olhar principalmente para a parte positiva quando encaramos o futuro. Doutra forma, como diz o Voto Branco, "as atrocidades agora cometidas por determinados cobardes, serão daqui a alguns anos justificação para outros actos terroristas" e temos uma escalada de violência que nunca mais acaba. Pessoalmente, não o desejo.
Da minha parte, já sabem, podem contar com todos os meus esclarecimentos, aqui, públicos e modernamente frontais.
Caro Rui,
Não quis de forma alguma beliscar a sua honorabilidade. Apenas fiquei admirado com a pergunta / afirmação, pois como disse é muito básica e pobrezinha! Espero que não tenha interpretado de outra forma as minhas palavras.
Quanto à influência ocidental no oriente, através de [massacre de culturas, cultos, religiões] é verdadeira, mas talvez se esqueça a Sr.ª deputada, ou talvez não estudou história na escola, da influência árabe, muçulmana, visigoda na Península Ibérica, e nem por isso somos terroristas. Bem, pela mesma lógica percebe-se as motivações das FP25 e da ETA!
Saudações
Caro Voto Branco,
Não se preocupe, não fiz, de todo, esse entendimento das suas palavras. Deu-me apenas uma razão para deixar bem claro aquilo que escrevo e como o faço. E eu aproveitei.
Caro Rui,
A atitude da Sr.ª mostra bem em que contexto partidário se encontra...são os defensores dos valores democráticos e da verdade!!
Meu amigo, conhecendo os intervenientes, desde já te endosso o meu apoio, face ao termo, sabendo de antemão o quão bom opositor de discussão és face à boa qualidade que tens: saber ouvir, analisar e respeitar as opiniões divergentes. Já te conheço à uns anos para o poder afirmar.
Acusações inférteis e injustas de alguém que, como aqui já alguém disse, não se percebe por que critérios de excelência democrática está onde está...uma de tantos diga-se no entanto!!!!
Compreende-se a lógica da Sr.ª...mas é uma lógica simplista...a velha questão de que a politica (e os enredos politicos, actuais ou históricos) é para todos, mas nem todos são para a politica!!!
Quanto ao facto que aqui alguém refere de que os grupos terroristas atacam os da sua própria raça, convém esclarecer que não os consideram como tal. E aqui devemos discernir entre os grupos que avisam antecipadamente dos seus ataques (ETA, por ex) e aqueles que tentam causar o maior número de vitimas quanto possivel!
ISso deve acima de tudo a serem extremistas radicais e como tal...suponho que a lógica do que fazem seja quase impossivel aos olhos de alguém moderado. MAs no caso deles, até os da sua raça são inimigos porquanto se deixaram "contaminar" por outros valores e, desse modo, só algo terrivelmente violento os fará acordar dessa letargia axiológica em que se encontram.
Mas temos tantas outras razões que, realmente, acentuar qualquer uma é demasiado simplista.
Eu tou vivo porque respiro? Só por isso?
Demasiado simplista...
Cumprimentos
Moral da história
Até na blogosfera as telenovelas são um sucesso!
;)
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