É deveras engraçado ler os cronistas do regime nestes dias após a derrota nas Europeias. Todinhos, sem excepção, estão a tentar justificar a derrota pela abstenção. É curioso, parece que foram todos afectados por um raio da mesma inspiração superior.
No entanto, esquecem-se que a abstenção é igual para todos, ponto 1, e que devemos partir do princípio que aqueles que votaram reflectem, grosso modo, o sentimento dos restantes. Doutro modo, estaríamos perante uma teoria da conspiração, onde todos os abstencionistas votariam PS.
Ponto 2: Houve uma subida da ordem do dez pontos percentuais da abstenção nas Europeias de 2004, para estas de 2009, de 69% para 78%. Uma subida similar registou-se nas últimas Legislativas regionais, que o PS venceu, de 44% em 2004, para 53% em 2008. Ou seja, o argumento que os cronistas socialistas usam para minimizar a vitória do PSD, poderá ser usado perfeitamente para a sua própria vitória na Legislativas de Outubro passado. A não ser, claro, que haja uma marca de abstenção, decidida por alguém com uma grandiosa visão do mundo, que defina o ponto a partir do qual se pode minimizar uma vitória, com base nos valores da abstemção. Além disso, estes actos eleitorais são, de facto, distintos, enquanto na europeias estamos elegendo dois dos 735 deputados ao Parlamento Europeu, nas legislativas regionais estamos elegendo o partido que irá formar o governo. Decididamenente, não é a mesma coisa.
Ponto 3: É mesmo urgente que se faça um debate sério sobre a abstenção. E será importante tomar como exemplo a Madeira, que tem sempre valores bem abaixo dos Açores. Nas últimas Legislativas na Madeira, em 2007, a abstenção situou-se nos 39% (em 2008, nos Açores foram os tais 53%) e nestas Europeias 59% dos madeirenses não votaram (ao contrário do 78% de açorianos). Será importante reflectir sobre estes números e sobre a forma como a cidadania é exercida nos dois arquipélagos. A impressão que fica é que nos Açores, o sector público (leia-se Governo regional) está presente em todos os aspectos da sociedade, não a deixando respirar e, consequentemente, retiranto as bases para o exercer da cidadania plena pelos cidadãos comuns.
De resto, já aqui referi que o caminho não pode ser a obrigação do voto, por muito que seja praticado noutros países, mas sim o criar condições para votar. Aproximar o voto aos eleitores, utilizando, por exemplo a mesma tecnologia que se usa para entrega electrónica de IRS e outras formas. Por outro lado, seria importante actualizar os cadernos eleitorais, pois o recenseamento automático trouxe muitos novos eleitores e parece que não há a mesma preocupação em relação aos que vão falecendo.
10 comentários:
A eliminação automática dos eleitores falecidos já é feita há vários anos.
Segundo li este fim de semana nos jornais, em 2013 poderemos votar em qualquer parte do país, sem termos obrigatoriamente de nos deslocarmos ao local onde estamos recenseados.
Esta é uma medida muito importante, tendo em conta a forte migração e combatendo o inimigo da deslocação obrigatória para se ir votar.
Cada um de nós pode fazer um bocadinho e melgar a malta lá em casa e os amigos ao seu redor.
Quando à responsabilidade dos próprios políticos, que é inegável, esperemos que tenha sido desta que tenham percebido que é imperativo uma nova postura perante a posição que ocupam.
Claro que depois, fica muito dificil que lhes confiemos o nosso voto. Ainda assim, o cidadão dispõe do voto em branco (tão discutido ultimamente), voto que pode realmente mostrar o descontentamento e reenvindicando uma mudança.
Este ano, não foi à toa que 236.028 cidadãos se deram ao trabalho de perder um bocadinho do seu dia e irem votar em branco. E estes não podem ser colocados no saco dos que estavam na praia a apanhar sol.
Não há dúvida que é urgente uma mudança, mas é urgente pela parte de todos.
Isso de ficar à espera que seja sempre o próximo a tomar uma atitude, já era!
Abraço!
Correcção:
4.63% dos eleitores, o que equivale a 164.878 votos em branco.
Caro Tiago R., Essa minha afirmação é proferida tendo por base um jornal que li este fim-de-semana, antes da eleição. Se não estou em erro foi o Correio dos Açores, se não foi mesmo o Público de Sábado. Vou tentar confirmar isso e dps darei aqui conta disso mesmo. Se de facto, for como diz, não terei qualquer problema em admitir o erro :)
Em qualquer dos casos, esta subida abrupta da taxa de abstenção deve ser analisada tendo em conta o recenseamento automático.
Caro Sérgio,
Sinceramente, acho que se os candidatos tivessem debatido exclusivamente questões como o tratado de lisboa, ou o alargamento, ou uma política de defesa da UE, ou outras, a abstenção seria ainda superior. Ainda assim, falou-se muito de questões europeias na campanha, agora é certo que as pessoas votaram muito tendo em conta os seus países (regiões) e não o PE.
Rui,
eu não disse nada disso. :)
Não disse, mas penso, como sabes...
Mas aqui, quando me referia à postura dos políticos, refiro-me à questão nacional, à perda de respeito pelos cidadãos, à impunidade dos seus actos, e também, como dizes, à forma como informam os cidadãos. Quer seja em campanha ou durante o resto da sua actividade política.
Quer-se um bocadinho mais de seriedade, ética e respeito por quem lhes permite que exerçam a tão nobre actividade política.
Abraço
A abstenção está a servir para cobrir derrotas. Nas regionais, cobriu a do PSD, falou-se em abstenção durante uma semana e ponto. Não se fez nenhum trabalho de fundo para a resolver.
Agora a abstenção serve para cobrir a derrota do PS, muit provavelmente não se fará um debate sério sobre o assunto.
Vamos continuar assim, a abstenção vai servir para cobrir derrotas no futuro, quer do PS, quer do PSD. Assim não vamos lá.
Haja Saúde
Caro Sérgio, isto parece conversa de surdos, mas eu não disse que tivesses dito nada, simplesmente peguei nas tuas palavras como ponto de partida para eu próprio fazer um comentário sobre um assunto que quis abordar.
Andas com a mania da perseguição, ou quê? :D :D :D
É o que dá ler a correr...
Sorry.
No prob, my friend, temos mt que fazer e mt pouco tempo, daí lermos as coisas na diagonal, eu tb o faço no geral.
tenho quase a certeza de que os falecidos não são eliminados automáticamente; houve uma "limpeza" há uns anos, mas penso que não se fez mais nada
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