As sociedades têm evoluído em várias áreas e de tendo por base uma identidade própria. Mas estas evoluções trazem consigo diversos desafios, e até problemas a estes inerentes. Mas este paradigma parece estar a ser alterado.
Vou centrar-me nas questões dos valores, das crenças, das normas (não Leis) e dos padrões de comportamento socialmente aceites, pois estas são, grosso modo, as formas informais de controlo social, ou seja, da manutenção de uma ordem social. Quando estes itens sofrem um modificação, estamos perante uma Mudança Social.
Quando uma Mudança Social ocorre de maneira muito rápida, dela advêm factores negativos. Uma mudança repentina, provoca insegurança e confusão nos indivíduos. Se a esta celeridade na alteração dos valores, crenças e normas vigentes, somarmos um desfasamento entre vários grupos dessa sociedade, então está aberto caminho para uma desorganização social, que pode conduzir a problemas sociais.
Num Mundo Globalizado - como este que “escolhemos” -, as mudanças são cada vez mais aceleradas, logo os problemas difundem-se de um forma generalizada, em catadupa.
Estamos num ponto de viragem, ou talvez, até de saturação. O Planeta terra, outrora revestido por uma paleta de cores, fruto do relativo isolamento e manutenção dos modos de vida de cada país, e pela preservação das suas culturas e costumes, caminha agora para uma certa uniformização. Os meios de comunicação social, bem como as facilidades de mobilidade, contribuem, em larga medida para este cenário actual.
Quando me refiro a “saturação”, digo-o pois as gerações que nasceram e cresceram na era da Internet e das TV´s por cabo, são cada vez mais monótomas, interiorizando e, por consequência, exteriorizando, as novas culturas de massa, relegando para segundo plano, e até desvalorizando ou ridicularizando, as suas culturas de origem.
Estaremos perante uma crise de valores?
Eu temo bem que sim, pois a perda e um controle social - indispensável para a organização social, que tem por base a continuidade de um comportamento padronizado e previsível -, conduz uma sociedade à tal confusão e insegurança dos seus indivíduos. (que atrás refiro)
A tecnologia - também ela um factor de mudança social -, tem levado a melhor sobre as novas gerações, quase me arrisco a dizer que é, nos dias de hoje, o cerne da mudança social que se vivência, pois o seu ritmo de actualização e inovação, tem desviado os jovens das suas culturas e costumes locais. A padronização de comportamentos, a imitação do que está na moda, e a reprodução dos estilos a ela inerente, destroem a paleta de cores que revestia o nosso Planeta, tornando-o cinzento e enfadonho. Acabar com a diversidade, é, a meu ver, regredir na evolução social.
A evolução, mudança social é inevitável e, até, desejada. Mas quando é levada a cabo de maneira abrupta e difusa, provoca problemas sociais imprevisíveis e, seguramente, uma perda de diversidade.
Como mudar esta tendência actual? Será possível e/ou desejável combater este “cinzentismo”?
4 comentários:
Não partilho do pessimismo.
O facto é que as próprias tecnologias têm permitido a expressão e discussão cada vez mais colectiva livre sobre os valores da nossa sociedade. Talvez pela primeira vez na história temos uma sociedade que se questiona (como você acaba de fazer) e se analisa criticamente. E, acima de tudo, é dada importância e valor à opinião individual.
Teremos certamente valores mais fragmentados e diversos e uma estrutura ideológica social menos unitária.
Mas por outro lado, será certamente mais respeitadora do indivíduo, mais aberta à diversidade e à mudança. Numa palavra: uma sociedade mais livre.
Vivemos tempos exaltantes!
De certo modo, concordo com a posição do Tiago R., pois se é certo que a mudança que te referes, da evolução tecnológica, (que está aí e temos de enfrentar) trás problemas e dificuldades, também é verdade que trás muitos benefícios. Se em termos de cores, para usar a tua analogia, se perderam algumas, o certo é que se ganham outras. Desde logo, esta ferramenta/espaço virtual que é a internet, que nos permite dialogar, saber, interagir, etc. sem se quer saírmos da nossa cadeira. Se noutros tempos, era obrigatório o sair da cadeira para essa interacção, a verdade é que hoje, pelo menos, temos as duas hipóteses, ao contrário do passado.
Cabe-nos saber lidar e viver com a nova realidade e de pouco valerá querermos nos opor, é quase como querer parar uma onda. No entanto, podemos, enquanto indivíduos e grupos familiares, ou outros, querer manter uma série de tradições que nos dizem alguma coisa. E mantemos.
Caro Tiago R.,
mais do que pessimismo, sinto uma certa desilusão.
Percebo que se refere aos aspectos positivos de algumas ferramentas tecnológicas de que dispomos actualmente, e que possibilitam a difusão de opiniões e a discussão de ideias e argumentos. Nesse ponto estamos de acordo, pois eu valorizo a interactividade entre as pessoas.
Também não sou apologista da unanimidade, nem tão-pouco de uma imposição regimental, que nos castre a liberdade de escolha ou opinião.
Mas uma sociedade - que normalmente está sob a capa de uma nação -, deve, a meu ver, ter valores e normas aceites e partilhadas pelo todo. Caso contrário, instala-se uma certa confusão e uma fragmentação dos valores e costumes que nos unem, e nos tornam, numa sociedade.
Quando me refiro à globalização, e à padronização de comportamentos e identidades - que são cada vez mais globais, do que locais -, digo-o pois parece-me que esta uniformização conduz a uma ruptura e falta de identificação com os valores, crenças e normas que 2dão cor" a cada sociedade, e lhe confere uma identidade própria. Eu, que sou da àrea das ciências sociais, dou muito valor ao individuo enquanto parte integhrante de uma sociedade.
Se este elo se quebra, corremos o risco de caminhar para uma monotonia cultural, deixando de haver traços individuais que nos unam.
Se as mudanças verificadas em cada siociedade forem demasiado rápidas e desfazadas dos comportamentos socialmente aceites, corremos o risco de, dentro desta sociedade, haver grupos que se rebelam entre si, não de uma forma civilizada e pacifica, mas antes de forma desorganizada e em choque cultural, o que nos conduz, indubitavelmente a uma desordem social, e aos problemas que dai possam advir.
Se por um lado nós, que crescemos sem esta imensidão de tecnologia e mais centrados no nosso meio, construímos a nossa individualidade segundo os padrões da sociedade onde estamos inceridos, já as gerações seguintes, com tanta informação dispersa e mal tratada, podem correr o risco de ver muito, sabendo pouco, conhecer o mundo sem saber as suas origens. Ou seja, constroem as suas identidades, baseados, não nos valores e normas vigentes nas suas sociedades (e que podem balizar e ajudar na interpretação das diferenças), mas antes de forma dispresa. Isto pode originar uma dificuldade em criar uma identidade e contribuir para um vazio em relação a sentimentos de pertença....ou, no pior dos cenários, colar-se ao que contemplam através da net ou dos vários canais de TV cabo a que assistem e que "vendem" e difundem o mesmo estilo para todos os jovens, moldando-os em massa. (por enquanto mais ocidentalizados)
Se reparar, o Japão é um país que atravessa um dilema e um choque cultural brutal, fruto dessa quebra de identificação com os valores antes valorizados.
Por isso, o meu receio de uma mudança tão súbita e difusa numa sociedade. Não será mais uma "generation gap" como aquela que conheciamos e que era desejável e normal, fruto da evolução.
Cumprs.
Rui,
muito do que acima respondi ao Tiago, pode servir para ti, pois partilhas, de modo geral, da opinião dele. (e eu também no que toca a certas ferramentas da net e determinados canais de TV)
Mas vejo que respondes - ainda que de forma indirecta -, às questões que deixo no final do post.
Tu acreditas que é possivel continuar a manter as tradições e costumes que nos conferem uma identidade própria. Pois eu digo-te que muitas delas se têm perdido, fruto da evolução dos tempos e dos avanços tecnológicos.
Outras podem sofrer alterações - o que não é necessáriamente mau -, mas a meu ver caminhamos para uma inversão valorativa (em detrimento das parte, em favor do todo), que se repercutirá na forma como os nossos jovens olharão para as nossa tradições e para as normas (não escritas, mas aceites pelo tecido social) que nos regulam e nos possibilitam o tal controlo social.
O artesanato está em vias de extinção, pois os jovens já não o valorizam. Querem o que está na moda (no mundo), e o artesanato é, para eles, coisa do passado e manifestação de velhos costumes duma sociedade que é deles, mas com a qual muitas vezes se deixam de identificar.
O vestuário, é outra manifestação da uniformizaçãoa que me refiro. A arquitectura é outro exemplo. E muitos mais conhecerás.
Abraço.
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