21 setembro 2011

O Imperativo de Acabar com os Políticos Profissionais


Os acontecimentos dos últimos meses no país e na Madeira na semana que passou vêm comprovar que estamos num momento de mudança de ciclo, em termos de gestão política, em Portugal.

A História recente de Portugal ficou marcada pela austeridade e respectiva estabilidade económica do período designado por Estado Novo. Além disso, como se sabe, a Ditadura limitou muito o exercício de algumas liberdades hoje consideradas como fundamentais, o que, conjugado com a guerra do Ultramar, levou à Revolução de 25 de Abril de 1974.

Hoje, passados 37 anos, podemos dizer que os políticos portugueses não souberam gerir as transformações do pós 25 de Abril Com efeito, assistimos a uma cultura de direitos adquiridos, por um lado, e por outro, de aproveitamento pessoal por parte da classe política que geriu o país nas últimas décadas, que praticamente levaram o país à bancarrota. Estes dois factores conjugados criam um ciclo vicioso que é muito difícil de quebrar, pois ao dotarmos os cidadãos de direitos, sem lhes exigir deveres, estamos a colocar o eleitoralismo à frente da responsabilidade política. É claro que um partido que oferece todo o tipo de benesses, reúne todas as condições para vencer eleições. Mas a que preço é que se oferecem essas benesses? Pode o nosso país, ou no nosso caso, a região, pagar ad eternum esta cultura de direitos adquiridos? A situação actual diz-nos que não. O ciclo vicioso completa-se quando esses políticos, ao ganharem eleições, acostumam-se ao poder e fazem tudo para lá ficarem eternamente. As vantagens são, como sabemos, mais que muitas para quem usa o poder desta forma, alimentando, de forma vil, clientelas importantes para a manutenção desse poder e fazendo enriquecer aqueles que lhes são próximos, através de esquemas certamente anéticos e, provavelmente, nalguns casos, ilegais até.

É um ciclo insustentável que mais tarde ou mais cedo terá que implodir sobre si próprio. Foi isso que aconteceu em Portugal continental, é isso que se está a passar na Madeira e é isso que, inevitavelmente, se vai passar nos Açores. É o crónico problema do déficit, em que se gasta mais do que aquilo que se produz e tem que se recorrer ao empréstimo. Gasta-se porque é preciso alimentar toda uma máquina com o objectivo de se eternizar no poder. Numa palavra e a ser simpático: uma irresponsabilidade atroz

Mas esse período, felizmente, acabou. Hoje temos em Portugal continental toda uma série de políticos duma nova geração que têm um entendimento totalmente diferente da forma como se deve governar um país. Com alguns erros e hesitações à mistura, pois estão perante um trabalho herculeano, esta nova geração é mais técnica do que política. O que lhes move não é trabalhar para a sua próxima reeleição, como era o caso dos políticos que governaram Portugal até agora e como é o caso dos que governam os Açores e a Madeira há décadas, o que lhes move é colocar o país no caminho do crescimento. A maior prova disso veio exactamente daquele que é o melhor (ou pior, dependendo da perspectiva) exemplo do político português pós 25 de Abril: Mário Soares. O decano socialista atirou a matar contra o arquétipo da nova geração: o ministro da finanças Vítor Gaspar, dizendo que é um político ocasional. Nem mais, Dr. Mário Soares. É isso mesmo. Vítor Gaspar e os outros que compõem este novo governo não vivem da política, não se alimentam da política, como era e é o seu caso. São políticos ocasionais, como todos os políticos deviam ser.

O erro, Dr. Soares, está em si e no tipo de político como o senhor. O erro está em políticos que ficam 10, 20, 30 anos no poder. O erro está em políticos que passam o poder aos filhos, como se de uma herança se tratasse. A este propósito não podemos deixar de nos admirar e até registar alguma tristeza com o que se passa no PS-Açores. Um partido rico em quadros de grande qualidade: professores universitários, investigadores, técnicos superiores de todas as áreas com provas dadas, deixa-se ser comandando de forma dinástica pela família César. O cúmulo aconteceu há dias quando César pai recebeu César filho. Inacreditável, mas sintomático do erro que são os políticos profissionais que vivem da política. Pessoas que não fazem a menor ideia o que é um dia de trabalho, que vivem, usam e abusam do bem comum, como se fosse sua posse. Servem-se em vez de servirem. Esses políticos e esses erros quem os pagam são os cidadãos, com o seus impostos e com o seu trabalho.

Estes políticos deixaram a nossa sociedade doente e quase em fase terminal. Uma doença que estava diagnosticada há muito tempo, mas que foi sendo disfarçada no continente e Madeira enquanto se pôde e que vai sendo disfarçada, por enquanto, nos Açores. Felizmente o processo de cura, inevitavelmente dolorosa, diga-se, já começou no continente.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Rui
Há os que ainda acreditam em Fátima, há outros que substituem estes dogmas por outros, direi que cada um acredita no que quer ou no que lhe fazem acreditar.
Dizer que estes políticos, são diferentes dos outros só porque alguns são professores Universitários, é antes de mais esquecer que sempre houve políticos de carreira e outros não.
Mário Soares e mesmo Sá Carneiro eram advogados e antes de serem políticos tinham exercido e este facto não alterou quase nada.
A verdadeira diferença a encontrar não é entre os que foram e os que são, mas entre aqueles que desempenharam dignamente esta função e os que não...
Apesar de reconhecer que trinta anos de PSD/PS/CDS, nos conduziram a isto, não digo que dentro destes partidos não houve políticos dignos, a diferença é que estavam ao serviço de politicas que não serviram o País.
Dizer que o problema do País são os direitos adequeridos ou a despesa, é tão "verdade" como dizer que nos anos bissextos, tudo corre mal.
Os direitos foram conseguidos pelas pessoas e são(no geral) uma conquista civilizacional.
A despesa é uma necessidade de estarmos numa civilização que tem um sistema económico, só por si não tem mal nenhum, temos é que saber que tipo de despesa é que se fala?
se for os milhões do BPN, eu digo não, os donos do Banco dirão sim.
Mas a racionalidade do País certamente não aceitará este negocio.
O que é necessário é compreender que a despesa não só é toda igual como ela serve, pessoas e classes sociais de forma diferente.
Esta despesa foi essencialmente para servir os grandes senhores da finança que se socorreram criminosamente dos dinheiros públicos
Não compreender isto e a forma desastrosa e "liberal" como a Europa e o Mundo esta a ser governado é não entender nada, nem os sinais que vêm mesmo dos Capitalistas mundiais, que sabem que o mundo tem que ter outras politicas, mesmo para salvar o sistema capitalista.
Sem me alongar convinha que analisasse melhor os sinais de Portugal e do Mundo, se não quer curar a doença com o vírus que a provocou.

Bandeira Açores disse...

Hoje temos em Portugal continental toda uma série de políticos duma nova geração que têm um entendimento totalmente diferente da forma como se deve governar um país.
Discordo totalmente...
Enquanto formos governado por gente que saiu directamente do berço para a politica estamos lixados.
Enquanto tivermos politicos que a primeira coisa que fazem é calcular o quanto terão que cobrar de impostos para gerar liquidez, então estamos mal.
Gostava de ouvir um politico dizer que o estado ia alienar o imobilizado supérfluo, a começar pelas viaturas luxuosas do estado, a começar pelos cortes nas deslocações. Com tanta tecnologia de video-conferência acessivel a baixo custo, continuamos a pagar deslocações luxuosas para os "meetings dos gentlemens".
Enquanto os politicos sentirem que são os donos do povo estamos lixados.
Os politicos são empregados do povo, mas parece que em Portugal isso é visto ao contrário.

Anónimo disse...

Como é que escassos 230 000 almas podem sustentar esta orda de politicos, que transitam da escola para o parlamento?

Será que os Açorianos necessitam destes politicos todos e lucram alguma coisa em os sustentar?