O PSD/Açores foi
estrondosamente derrotado nas eleições regionais. Ao contrário de muita gente,
não subscrevo por inteiro a tese de que a culpa foi de Passos Coelho. A ideia é
simplista e permite que “os baronetes” se escudem e escondam. Por outro lado,
também não se pode culpar exclusivamente Berta Cabral. É certo que as bases lhe
deram tudo o que pediu, é certo que teve toda a liberdade para fazer escolhas; é certo que delineou estratégias
como e com quem quis, mas também é certo que é exactamente isso que se espera
de um líder: capacidade para escolher e decidir. Sendo humana, errou. Apostando
na mediatização personalística, errou na escolha de boa parte das segundas figuras,
independentes ou militantes, porque incapazes ou pouco motivadas ou
ilusoriamente motivadas. E a prova verificou-se na noite eleitoral. As bases
estiveram presentes; a maior parte das segundas figuras debandou em busca de
novas palavras para velha semântica. Que fique claro, pelo que ouvi nas ruas
(que as catedráticas segundas figuras não frequentam e não escutam), o povo até
acreditava nela. O problema era (foi) a sua equipa. E isso, na dúvida, ajudou a decidir.
A derrota eleitoral
do PSD/Açores não aconteceu naquele dia. Começou muito antes. Começou na
sua autofagia. Começou naquilo que não é o seu forte: organização, estratégia,
unidade.
Atendo-me somente à
organização (sem a qual o resto irreleva), o que se verifica é que o PSD/Açores,
vivendo à volta de um núcleo de notáveis ou pseudo-notáveis, uns de qualidade
inquestionável, outros confrangedoramente inúteis, é incapaz de mobilizar os militantes, valorizando-os, e, acima de tudo, responsabilizando-os, ao atribuir-lhes
funções concretas a realizar no caminho que conduz ao poder. Isso, sim, é
trabalhar em equipa; isso, sim, é unir em torno de um objectivo comum.
Mas, pior, se existe
algum afastamento em relação aos militantes, não deixa de ser preocupante a
atitude relaxada, quase envergonhada, relativamente àqueles que são ou foram
a cara pública do partido. Com efeito, aos candidatos nada lhes é (foi) exigido,
publicamente exigido. Estes comportam-se (comportaram-se) como primas donnas, intocáveis na sua
sapiência, intocáveis na sua função, aguardando que os “cola-cartazes” agissem
por eles. Um candidato deveria agradecer por ter sido escolhido; um candidato
deveria ser humilde porque a sua escolha lhe impõe responsabilidades e, no
mínimo, a primeira é a de dar a cara, nos bons e maus momentos, respeitando
quem os escolheu, respeitando as bases que, na acção, os substituíram.
Sem isto, pouco
importa o que faça ou diga quem circunstancialmente (e não deveria ser
circunstancial) lidere um projecto. Este, por muito que se não queira, está
votado ao fracasso.
De onde vem e o que faz o mundo? Eis uma
pergunta que as “elites” são incapazes de responder. O conjunto de factos
irrisórios do quotidiano que se vão aglomerando e unindo, sem aparente ligação,
não lhes merecem reflexão. Enquanto epifenómenos, na essência, não suscitam
acção. Quando fenómenos (políticos) terão reacção. Tardia, porque o adversário
se antecipou.
A organização (ou a
falta dela) desvalorizou, desprezou, invejou, até, aqueles que desinteressada e
voluntariamente se colocaram à sua disposição para pensar e definir uma
estratégia vitoriosa (lembro o grupo de S. José, como exemplo maior, mas
replicado por vários locais e ilhas). Sem surpresa, uma vez autofágico…
Finalmente, porque
estrategicamente errado, primariamente errado, o centro do descalabro
conselheiro: x9 = x8. Jamais se poderá compreender e admitir que um partido que
quer governar não se apresente em todos os círculos eleitorais, qualquer que
seja o fundamento político. E, convenhamos, o do Corvo é absolutamente ridículo
e fará mossa durante mais tempo do que aquele que a curta táctica anteviu e do que os
corvinos merecem. Quem ganhou o quê no Corvo?
Noutro tempo e
noutro lugar, por pouco tempo, exerci funções partidárias. Como naqueles, neste
tempo e neste lugar, o PSD continua igual a si próprio.
Lamento perguntar, mas, perante o quadro que se adivinha, onde
será a próxima queimada?* texto escrito em 23 de Outubro, mas hoje tornado público apenas porque o PSD/A irá a votos proximamente.
5 comentários:
Finalmente, caro Gonçalves, você decidiu olhar para dentro do seu partido. Nao sei se voce é porta voz mas conheço militantes do PSD que fazem criticas parecidas. Parece-me que foi frontal demais. Se você ambicionava algum cargo no partido acabou de atirar tudo por terra. Essa malta nao perdoa a verdade. Tambem me parece que nao disse tudo o que lhe ia na alma mas percebo que falasse ja que ha candidatos em s. miguel que sao um atentado.
Como gostei daquela parte da açao-reaçao que subscrevo deixo aqui uma açao:
Grupo Parlamentar do PS/A reúne 2ª feira com a Comissão de Trabalhadores da Base das Lajes
O Rodrigo oliveira mete a pata na poça em pleno parlamento. O PS age. e onde anda o PSD?
Caro José Gonçalves
Julgo não errar se dizer que este post foi dos melhores que o vi escrever.(É claro que este meu comentário é subjectivo)...
Se bem se lembra, muitas dessas considerações(com o justificado desconforto do José)fui dando nota nos meus comentários, disse que antes de ganhar eleições havia que arrumar a casa, também lhe disse que alguma falta de organização e centralismo orgânico, contra a dinâmica e pro-actividade dos militantes, era implementado Nacionalmente(como a feitura dos discursos e toda a organização de base)e por isso disse que os militantes de base se limitavam a saber ler e a falar alto, tudo o que era escrito centralmente...
Independentemente de considerar que os principais erros são sempre internos, não posso desconsiderar a influencia negativa que teve a conjuntura politica referente ao Governo, PSD/CDS de Passos e Companhia, refiro que disse no Ilhas ao estimável JNAS, que a vitória de Passos era um presente envenenado para o PSD Açores, pois ponha em causa a vitória do PSD, Açores em Outubro( não foi adivinhação, mas analise da situação politica criada com a eleição de Passos Coelho e a minha quase certeza, que seria desastrosa e com efeitos nefastos nos Açores.
Mas independentemente de algum desnorte´, pós eleitoral(considerações minhas)o José Gonçalves "redimiu-se" exemplarmente e escreveu um texto incisivo e elucidativo da situação existente no PSD e propedêutico em relação ao futuro, um autentico manual de como transformar democraticamente(e julgo que ideologicamente) o PSD...
Os Açores necessitam dum PSD interventivo, fiscalizador e reformador...
Os meus parabéns por este tocar a reunir no seio do seu Partido.
Saudações,Açor
Gonçalves
sao palavras vãs. Voce criticou tarde mas creio que terá sido porque lhe custa bater nos seus. Criticou bem mas creio que o PSD prefere ignorar, como ignorou o JNAS. Acham eles que se ignorarem é porque nao existe. Parecem a avestruz, mete a cabeça na areia e pronto desaparece da vista. Tenho curiosidade para saber os resultados em s. miguel por aquilo que todos sabem. Eu que votei contra Carlos Cesar e nada tenho a ver com o PSD gostaria de ver uma candidatura de pessoas que nada tivessem a ver com a situaçao. Infelizmente ninguem vem para a frente. Avance JNAS mesmo que perda.
sem tirar nem por, subscrevo totalmente.
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