Um excerto do discurso Causas da Decadência dos Povos Penínsulares nos Últimos Três Séculos, que Antero de Quental proferiu na noite de 27 de Maio de 1871, na abertura das Conferências do Casino.
«Éramos mandados, somos agora governados: os dois termos quase que se equivalem. Se a velha monarquia desapareceu, conservou-se o velho espírito monárquico: é quanto basta para não estarmos muito melhores que os nossos avós. Finalmente, do espírito guerreiro da nação conquistadora herdámos um invencível horror ao trabalho e um íntimo desprezo pela indústria. Os netos dos conquistadores de dois mundos podem, sem desonra, consumir no ócio o tempo e a fortuna, ou mendigar pelas secretarias um emprego: o que não podem, sem indignidade, é trabalhar! Uma fábrica, uma oficina, uma exploração agrícola ou mineira, são coisas impróprias para a nossa fidalguia. Por isso, as melhores indústrias nacionais estão nas mãos dos estrangeiros, que com elas se enriquecem, e se riem das nossas pretensões. Contra o trabalho manual, sobretudo, é que é universal o preconceito: parece-nos um símbolo servil! Por ele sobem as classes democráticas de todo o mundo, e se engrandecem as nações; nós preferimos ser uma aristocracia de pobres ociosos, a ser uma democracia próspera de trabalhadores. É o fruto que colhemos de uma educação secular de tradições guerreiras e enfáticas.»
Apesar de não concordar com a premissa essencial do discurso, não posso deixar de achar este (e outros) excerto de uma actualidade deveras preocupante.
1 comentário:
é o perfeito e actual retrato das nossas elites.
Não do nosso povo.
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